Casa do Gaiato de Miranda do Corvo
Description
Casa do Gaiato de Miranda do Corvo - primeira Casa da Obra da Rua, fundada por Padre/Pai Américo, a 7 de Janeiro de 1940.
Responsável:
Padre Manuel Mendes
Rua Casa do Gaiato , 628
Bujos 3220-034 Miranda do Corvo
T. 239532125 No final de tanto brincar, chegava o terrível ir embora; os últimos dias de Setembro vinham de cortinas negras; depois das vistas de fogo, a escuridão. Arrumar a casa, fechar portas, debandar.
Para onde?
Se toda a gente das cidades conhece o ardina da rua, de o ver nas ruas, poucos há que saibam aonde ele mora, muito menos como vive.
Os lugares clássicos da piolhice que em todas as terras têm nomes - e na de Coimbra se chamam Bairro das Latas, Quinta do Poço, Arco Pintado, Pátio dos Lázaros, Lojão, Casa do Inferno - São zonas tenebrosas, conhecidas somente de fachada, que lá dentro ninguém vai a não ser a polícia! Eu também lá vou por outras razões.
O garoto ateima que eu seja mãe e chama-me para tudo. Se algum companheiro adoece, os outros passam palavra e levam-me onde ele habita. Chegado que sou à porta, vai uma chusma deles atrás de mim. Vão tristes. São solidários. O amigo está doente.
O catraio da rua adoece por comer mal. A tudo ele resiste: frio, sol, aguaceiros, noitadas, sarna, tinha, maus tratos - tudo! Menos à fome lenta.
Entro. A mãe não está em casa. Pai, não tem. Um deles procura fósforos, acende um candeeiro e mostra: «Olhe ali!» Este ali é o sítio que os espera após a debandada das Colónias.
Há muito que me doía o coração de não poder comprar uma quinta que fosse deles, para eles, governada e amparada por eles, para os livrar do tugúrio em caso de doença. Queria trazer na algibeira um remédio sempre pronto, ao visitar o pequenino doente na mansarda ou ao vê-lo abandonado por doença ou incúria dos pais; queria receitar. Não podia sofrer por mais tempo o ouvir, no final das Colónias, «deixe-me ficar aqui, que a gente em casa passamos fome» - eu que sabia a verdade toda!
Não! Arrumar, fechar, ir embora - estas palavras tinham de ser riscadas; e em lugar delas, armar tendas no campo, como Pedro quis fazer outrora no Tabor, pois que os pequeninos também gritavam à urna: «É bom ficarmos aqui!»
As Colónias de Campo do Garoto da Baixa eram uma Obra incompleta e eu tinha medo que o povo lhe chamasse, como às capelas da Batalha, imperfeita, Eu mesmo sentia que algo lhe faltava.
A missão de visitar o Pobre tem beleza; é filha de uma intuição artística que apaixona e devora o visitador.
Quanto mais repelente for o estado e condição dos visitados, mais se enamora deles.
O artista verdadeiro é um crente, ele coloca na base de todas as suas criações a Beleza Incriada de Deus, sem o que produzirá fantasia que deslumbra, sim, mas não faz arte que comova.
O visitador do Pobre que também é artista, tem necessariamente de ser um crente. A sua linguagem há-de dizer que ele é da Galileia. A beleza da sua acção é polarizada no seio de Deus. Ele chama a todos irmão; e porque são da sua carne, tem pena dos mais desamparados. Como a galinha faz aos milhafres, assim ele dá sinal e quer defender os Inocentes debaixo das suas asas. Faz arte que comove, e não obra que deslumbre, o visitador de Pobres.
Tell your friends
RECENT FACEBOOK POSTS
facebook.comPARTILHA – Do tempo do Natal, temos de agradecer vivamente as partilhas que nos chegaram, pessoalmente e por outros meios, nomeadamente géneros alimentícios e prendas, bem como algumas ajudas para as nossas despesas que são muitas… Oportunamente, daremos conta de alguns visitantes amigos. Bem-hajam!
AGROPECUÁRIA – Tem continuado a chover, o que é bem necessário com tanta seca que houve; e as temperaturas também têm baixado. No Inverno, há tarefas agrárias que têm de se fazer nos campos. Mas, depois do estudo, temos andado a descarolar o milho no nosso celeiro. Ainda, foram cortados os troncos que estavam no barraco e arrumada a lenha, bem acamadinha. Continuou-se a poda das videiras, fruteiras e nos jardins; e apanhámos essas lenhas e das oliveiras. Dos galinheiros, depenámos 22 frangos e 2 patos. Temos necessidade de mais ovelhas para o nosso rebanho, mas são caras.
REGRESSO DE FÉRIAS – Uma boa parte dos Rapazes da nossa Casa esteve vários dias com familiares seus na quadra natalícia. Depois deste encontro tradicional, regressaram a 2 de Janeiro e esperamos que tenham vindo com vontade de serem bons membros desta Família, onde precisam de estar por várias razões.
ESCOLAS – Os miúdos do 1.º Ciclo participaram em festas de Natal, a 15 de Dezembro, no Centro Educativo e na EB1 de Rio de Vide. A 21 de Dezembro, os nossos professores foram receber os resultados das avaliações às várias Escolas, que foram positivos no 1.º Ciclo, enquanto do 2.º Ciclo ao Secundário há Rapazes que precisam de se aplicar mais e alguns têm dificuldades na Língua Portuguesa, porque falavam mais crioulo. Esperamos melhorias no 2.º Período, que começou em 3 de Janeiro de 2018.
78 ANOS DA NOSSA CASA – É importante celebrar as datas da nossa Família e em família. Daí que, conforme anunciado, de forma simples, comemorámos a fundação por Pai Américo da primeira Casa do Gaiato da Obra da Rua, a 7 de Janeiro de 1940, sendo nesse ano o dia do Santíssimo Nome de Jesus. Este ano calhou ao Domingo e participámos na Eucaristia dominical pelas 10 horas, em que se lembraram todos aqueles que viveram nesta comunidade e os seus amigos e amigas, em especial os que já partiram. É uma herança que nos obriga a sermos mais responsáveis na nossa vida quotidiana. Almoçámos mais cedo, contando à refeição com alguns amigos da Póvoa de Varzim, que nos trouxeram sumos e sobremesas. Deu tempo ainda de cantarmos os parabéns! Depois, fomos de autocarro até Coimbra para participarmos, pelas 15 horas, na festa da catequese de S. José, na Epifania do Senhor, em que apresentámos em palco uma encenação sobre a vida e Obra de Pai Américo e cantámos todos o nosso hino, com danças. Também este ano nos deram boa quantidade de bens alimentares, o que muito agradecemos, tal como o convite simpático. Foi um dia em cheio, para mais tarde recordar!
CATEQUESES AMIGAS "A catequese é coisa tão santa que ainda hoje milhares de pagãos visitam o túmulo de Francisco Xavier, pelo que ele ensinou aos seus antepassados. Padre Américo No regresso da viagem ao Myanmar e ao Bangladeche, no fim de Novembro, o Papa Francisco disse: Está gravada em mim a recordação de tantos rostos provados pela vida, mas nobres e sorridentes. E referiu-se a duas prováveis viagens ao continente asiático: Índia e… China. É sintomático que corroborou o que foi dito pelo Papa Bento XVI: A Igreja cresce, não por proselitismo, mas por atracção, isto é, por testemunho. Depois, é espantoso, pela sua simplicidade e profundidade evangélica, o que declarou ao baptizar várias crianças, pedindo que os pais e padrinhos lhes ensinem o dialecto do amor, pois a transmissão da fé só se pode fazer no dialecto da família, dos pais e dos avós. O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Catechesi tradendae, sobre a transmissão da fé cristã para levar à fé em Jesus, é claríssimo no centro da doutrina: No coração da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho único do Pai, que sofreu e morreu por nós e que agora, ressuscitado, vive connosco para sempre. Foi este o Caminho seguro e de vida em abundância que Padre Américo trilhou desde pequenino, realçando o ideal cristão: Nós procuramos seguir em tudo e por tudo a vida do Senhor, tal qual no-la deixaram os Evangelistas. Eu quisera que a vida do Senhor fosse contada às crianças, inculcada aos homens e vivida por cada um. Não acho nada que seja mais simples nem mais suave nem mais verdadeiro. Mesmo sendo do presbitério da Diocese de Coimbra, a sua doutrinação e prática da Caridade evangélica ultrapassou-a largamente. E escolheu, em Janeiro, precisamente o dia do Santíssimo Nome de Jesus como fonte de inumeráveis bênçãos, dedicando-se de todo o seu coração a pregá-l`O, como S. Bernardino de Sena, dando-O a conhecer vivamente no seu tempo com todas as suas forças, por palavras e obras, até ao desgaste final. Nesta nossa missão que nos é dado viver (Portugal é país de missão…), testemunhamos o eco do seu testemunho cristão, nomeadamente no carinho que várias catequeses amigas vão manifestando pelos filhos das ruas deste tempo (também refilões…), acolhidos entre nós, que sentem o seu bafo e dos amigos, numa história vivida vai para 90 anos junto às águas do Mondego, do Alva, do Ceira, Dueça, do Sousa… onde se foi entregando por inteiro como Padre! (Pai dos pobres) à evangelização, em especial dos últimos. Depois da visita de adolescentes cristãos de Condeixa-a-Velha (de Conímbriga) e Condeixa-a-Nova, com a partilha dessas comunidades, foi precisamente nos dias 6 e 7 de Janeiro deste novo ano da graça que esta Comunidade, desafiada por catequeses, participou nas festas da Epifania de Vermoil (Leiria) e de S. José (Coimbra). Não esquecemos, com gratidão, a amizade e alegria verdadeiras do Padre João Castelhano com os seus catequistas, tão empenhados em acolher e ajudar a família dos gaiatos em tantos momentos lindos, como nos dias em que as crianças atraídas pelo Menino Jesus são os reis da festa! Com perseverança, anos a fio, depois de campanhas da comunidade cristã em tempo de Advento, têm sido fielmente recolhidos géneros alimentícios de primeira necessidade para chegar às bocas insatisfeitas desta Comunidade e pobres aflitos, na roda do ano. Desta feita, conjugando felizmente o 130.º aniversário de Padre Américo e os 78 anos da Casa-mãe, 17 Rapazes apresentaram do seu repertório em palco bem conhecido quadras simples que ilustram a sua vida de amor a Deus e ao próximo, como esta: Contigo, Pai Américo,/o mundo ficou menos pobre,/foste grande, foste diferente,/tinhas um coração nobre. Depois desta abertura festiva, seguiram-se como é tradição as crianças da catequese com as suas representações de cariz bíblico – da infância de Jesus ao Bom Pastor! Na noite precedente, com o tempo a assustar, não houve medo e acedemos a outro convite da comunidade amiga de Vermoil, o que teve um significado acrescido, pois celebra-se (a 17 de Janeiro) o centenário das restauração da Diocese de Leiria – Fátima, pela Bula Quo vehementius do Papa Bento XV. Foi uma partilha também abençoada que trouxeram amigos e amigas de Matos da Ranha ao pé do Altar, junto do Senhor vivo e verdadeiro, e próximo de um menino pequenino, de carne e osso – José, em Eucaristia com o Prior Bom (sim!) e presidida pelo Reitor do Seminário diocesano, Padre José Augusto, depois de um encontro vocacional com adolescentes, numa semana motivadora desse coração da Igreja que ninguém deseja enfraquecido neste tempo tão exigente e com tanta gente carente. A messe é grande e os trabalhadores são poucos… Com tanto carinho e fé, em Coimbra e Leiria – Fátima, no regresso pelo IC2 em noite gelada, com garotos gaiteiros o nosso olhar voltou-se para o amigo Padre Manuel Gonçalves (a 19 de Dezembro fez 96 anos!), que foi desta Obra nos seus primórdios e é o ancião da Diocese conimbricense. Contam-se por mais de um milhar de filhos por cá até ao Norberto, em 8 décadas, e destas últimas gerações sentimos vivamente quanto carinho somos devedores, a ponto de alguém desejar ficar com o mano Marcelino, qual secretário de estado dos assuntos religiosos (com 9 anos!), que não foi demitido e há-de regressar um dia ao lar materno. O Menino está connosco! Que ideia e prática abstrusa é essa de julgar e condenar mães que querem tanto aos seus filhos e filhas… Certo é, pela nossa fé, pela Mãe de Deus, o povo que anda nas trevas viu uma grande luz! Naquele tempo, o Anjo do Senhor anunciou uma grande alegria para todo o povo. Nestes nossos dias, de tantas contradições, ilusões e maldições, há quem vá apagando o nome e a cruz de Jesus, da China à Europa. Entre nós, é difícil encontrar quem esteja com os Rapazes na catequese. Se é certo que nunca sabemos todo o alcance das nossas obras, é absolutamente impossível medir todo o bem que um catequista pode fazer ensinado catequese. É, pois, devida uma palavra de incentivo e gratidão aos catequistas das comunidades cristãs que teimam em anunciar esta maravilha de Cristo vivo, num ministério de proximidade da Palavra, cujos frutos sentimos bem neste Natal de Jesus, mais uma vez, pelas mãos acolhedoras de abelhas cuidadosas, na comunhão das Igrejas diocesanas de Leiria – Fátima e Coimbra. Padre Manuel Mendes Janeiro 2018
AGROPECUÁRIA – A chuva voltou nos dias de Natal. Antes, colhemos um campo de espigas de milho na terra nova; e foram recolhidas por baixo do celeiro, para serem desfolhadas e descaroladas. Na nossa horta, temos couve troncha e nabos. Concluímos a safra das azeitonas, apanhadas nas oliveiras da encosta junto à rotunda Pai Américo e no olival da mina, o que deu ainda mais 16 sacos. A 26 de Dezembro, foram levados a um lagar em Oliveira do Hospital. Neste ano agrícola, mesmo com a seca, houve uma excelente produção! Começou-se a poda das videiras e a apanha da lenha. Vários frangos e um porco estão em jeito de… Limpámos as capoeiras e currais dos animais. Tirámos as folhas os jardins, para estrume, e assim ficaram mais bonitos!
78 ANOS DA NOSSA CASA – Em 7 de Janeiro de 1940, o nosso querido Pai Américo fundou esta Casa do Gaiato, a casa-mãe da Obra da Rua, chamada no princípio Casa de Repouso do Gaiato Pobre, ao acolher os 3 primeiros Rapazes e depois de ter comprado em 1939 a quinta de S. Braz, onde vivemos, por 40 mil escudos, com muitas dificuldades, mas as necessidades eram muitas. É um dia de festa, em que vamos celebrar a Eucaristia, lembrando todos os Rapazes, Padre, senhoras, amigos e amigas que estão ligados a esta Comunidade. Cantemos, pois, os parabéns!
NATAL DO SENHOR – Neste ano, o Natal de Jesus foi preparado e celebrado com uma saída espiritual e principalmente as Eucaristias próprias desta solenidade. Antes, os Rapazes tiveram a oportunidade de ir de viagem até ao Santuário de Fátima para se confessarem e serem escutados por dois sacerdotes, durante o dia 20 de Dezembro, quarta-feira, na Capela da Reconciliação. Ainda participaram na Missa das 12.30 horas, na Capelinha das Aparições, em que concelebrou o nosso Padre Manuel com o Padre Luciano Cristino. Chegámos à nossa Casa, depois das 18 horas, mais contentes! Entretanto, fizemos o nosso lindo presépio no pequeno átrio dos antigos balneários, por baixo do nosso refeitório, anunciado por uma estrela luminosa; fomos buscar musgo aos nossos montes e depois colocámos pequenas imagens (pastores, magos, etc.) à volta de uma gruta (um tronco), onde ficaram bem as imagens de Maria, José e o Menino Jesus! Também foi enfeitada a nossa sala de jantar com motivos de Natal. No dia 24 de Dezembro, participámos na Eucaristia do IV Domingo de Advento, pelas 10 horas; e, pelas 23 horas, na Missa da noite de Natal; à meia-noite, fez de menino o Erikson, ao som de cânticos natalícios e de um sininho. A Missa do dia de Natal foi às 10 horas e o António da Costa foi o menino… Na assembleia, encontravam-se amigos nossos. A ceia de Natal foi um momento de alegria da nossa Comunidade, com batatas, bacalhau, couves, azeite (do nosso) e arroz doce. A senhora D. Nazaré fez um bom saco de prendas para cada Rapaz e todos gostaram muito. O Natal de 2017 foi simples e bonito para nós, nesta primeira Casa do Gaiato, da Obra da Rua. A todos os nossos amigos e amigas, bom ano novo, com paz e saúde!
DORES DE NATAL "O amor do próximo, nomeadamente da criança sem lar. Aonde houver este amor, há necessariamente o olhar de Deus." Padre Américo Na tradicional mensagem de Natal, o Papa Francisco denunciou o sofrimento das crianças, nomeadamente vítimas das guerras que ensanguentam e destroem a humanidade, e dos dramas trágicos da emigração forçada: Vemos Jesus nas crianças de todo o mundo, onde a paz e a segurança se encontram ameaçadas pelo perigo de tensões e novos conflitos. E sublinhou a Estrela deste tempo de ternura e encanto: O Natal lembra-nos o sinal do Menino, convidando-nos a reconhecê-l`O no rosto das crianças. A 17 de Dezembro, já o dissera simplesmente: Se retirarmos Jesus, o que é o Natal? Uma festa vazia. Em Portugal, as situações injustas e dolorosas que dilaceram a sociedade portuguesa são motivos fulcrais para que também a voz e as acções eclesiais, mesmo em silêncio e discretamente, não esmoreçam… Os dramas dos fogos e da seca, no estio deste ano de má memória, foram (são) tragédias duras cujas lições não podem deixar ninguém insensível, colocando em discussão e desafiando medidas urgentes sobre a floresta e o ambiente como prioridades nacionais e globais; pois, o dito progresso continua a produzir degradação humana, social e ambiental, conforme alertou o Pastor universal da Igreja. Ao termo laico solidariedade, preferimos a verdadeira caridade e a justiça, como sinais de partilha e comunhão de bens para a dignidade humana. A paróquia de Valongo articulou com a nossa comunidade a entrega de mobiliário e electrodomésticos para a sofrida Oliveira do Hospital. Do amanho destes campos, porque há aí rebanhos famintos, como também em Pedrógão Grande, centenas de fardos de palha de aveia são uma pequenina ajuda do suor do rosto desta família que nessas comunidades é acolhida tão bem, em especial na Ceia do Senhor. Entre nós, depois de 5 anos de Colónias de Campo, em que beneficiaram cerca de mil garotos pobres, há 78 anos que Pai Américo começou por acolher 3 filhos de forma estável, entre a multidão de rapazes das ruas, nesse tempo de guerra e miséria. No nosso tempo, digital e também de múltiplas guerras, por fanatismo e ganância, parece-nos pertinente uma reflexão séria e profunda sobre as leis e valores no tocante aos frágeis (em especial crianças, velhinhos e enfermos) e à família, para se atinar com caminhos de promoção da pessoa humana desde a concepção ao ocaso da vida. Para os cristãos, Deus ensina-nos a amar os débeis e os pequenos, os tesouros humanos, da linhagem de Jesus do presépio de Belém e de Nazaré. Que fazer diante de certas situações em que devia haver o seu protagonismo e justiça social? É evidente que tem havido desenvolvimento no acesso aos cuidados de saúde e à escolaridade da população portuguesa; porém, é preciso investir mais e melhor no serviço estatal de saúde e no ensino técnico (precocemente). Há periferias com que também nos confrontamos, em especial pais e rebentos fragilizados, pela desarticulação familiar, precariedade laboral e dificuldades de legalização, sem direitos básicos nenhuns. Na sua pobreza material, mas riqueza dos filhos, não querem perder os frutos tenros das suas entranhas. Num bairro problemático, o Maurício mais uma vez saltou de contente, arregalando os olhitos, quando chegou outro avio de papa; contudo, estes encontros amigos não suprem a satisfação dos seus direitos básicos, pois a sua mãe não tem um lar minimamente seguro nem nada para criar o menino. Uma mulher (africana), do tempo da guerra no Ultramar e mãe de Rapaz nosso, doente e aflita, pediu ajuda para se legalizar; mas, é como a pescadinha de rabo na boca, pois não trabalha e não desconta… Com um emprego precário, o pai do Trancolino anda preocupado com uma dívida ao serviço oficial respectivo e clamou também por auxílio. Em zona dita perigosa, a mãe do Barrigana ficou sem rendimento social, mas as condições de habitabilidade e sustento da prole são mesmo parcas; e disse-nos, enregelados: - Precisamos de mantas… Depois, num tiro de madrugada, urgiu correr e acompanhar ao SEF uma mãe de 3 rebentos; estando já dois com documentação em ordem, a prazo, devido à sua patologia – malformação crâneo-encefálica congénita, fez-se bom caminho na tramitação por razões humanitárias. Um rapaz, que por cá gostava de estar, mas teve de ir para outra paragem, precisou mais uma vez de cuidados médicos no Pediátrico e foi necessário acompanhá-lo, sendo logo bem atendido. Se nos fosse dado sugerir leis, quando é que as mães desta Pá(má)tria, que desejam dar à luz e com filhos (em necessidade), têm um rendimento e acompanhamento capazes de criarem os seus tesouros?... Mais e lindos meninos e meninas (de Jesus) veriam as estrelas e a Estrela! O Padre Américo foi um pastor que viu bem in loco e fez muito por tantos presépios sujos e manjedouras repelentes. Meditemos, agora, num naco de palavras interpeladoras da sua missão profética, noutro tempo (24-V-1952) e regime, cuja pertinência dão que pensar: Família que somos, aonde o Pai come à mesa e reparte com os seus filhos, não nos parece avisada nem necessária a jurisdição da Assistência. Esta tem de se exercer, sim, mas doutra maneira e por razões mais altas do que os simples subsídios. Para isso estou aqui. Para isso venho hoje a esta coluna chamar pelos Homens de boa vontade, que me ajudem a sair da encruzilhada, com um corpo de doutrina nova. Onze anos de vida dão a matéria. Odres novos, que o vinho é novo. É tão espumante a nossa acção, que a antiga lei não nos comporta. Poderá alguém tomar-nos por indisciplinados, mas isso é outro equívoco. O Evangelho, a Boa Nova de Jesus não passa e afirma perenemente os valores do ser humano; daí que Pai Américo tenha afirmado, com profunda convicção e fruto da sua acção: Tudo quanto seja regresso a Nazaré, é progresso social cristão. Padre Manuel Mendes. Dezembro de 2017.
Festa dos Reis, 78 anos da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, 130.º aniversário do Nascimento de Pai Américo... S. José, Coimbra. 7/1/1940 - 7/1/2018.