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Quarks Eduacacional

Avenida Fillinto Muller 474, De frente com o Mercadão , Três Lagoas, Brazil
Education

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Paulo Roberto de Paula, professor de teatro e dança, desde 1992 vem pesquisando sobre a pedagogia quântica, concebendo o método QUARKS.

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• Educação quântica A educação quântica é uma nova metodologia educacional que vem sendo aplicada nos Estados Unidos, em especial pela Universidade SuperCamp, gestora do projeto. O método se baseia nos mesmos princípios da física quântica, ou seja, nada é absoluto, tudo é relativo. O conhecimento precisa ser submetido à prática para que tenha um valor real. Segundo o modelo quântico, toda informação externa precisa antes ser processada internamente pelo aluno antes que venha a se tornar um conceito. Esta metodologia se baseia em 8 chaves de excelência: integridade, compromisso, falha que conduz ao sucesso, posse, falar com um bom propósito, flexibilidade, descoberta e balanço. Cinco princípios também orientam o processo quântico de educação: Tudo fala: Tudo ao seu redor emite informações, transmite uma importante mensagem sobre aprender; Tudo tem um propósito: Tudo que nós fazemos tem como objetivo um propósito; Experiência antes do rótulo: Estudantes tiram suas conclusões e transferem o novo conteúdo para sua memória de longo prazo conectando com o esquema já existente. O aprendizado é mais fácil quando estudantes experienciam as informações em alguns aspectos antes de adquirir o rotulo daquilo que está se aprendendo; Reconhecimento de todo esforço: O reconhecimento do esforço de cada estudante encoraja aprendizados e experimentos; Se vale a pena aprender isto, logo merece ser celebrado: Celebração fornece lembranças do progresso e aumenta a positividade emocional associada com o aprendizado. Estes princípios motivam o aluno ao aprendizado, a descoberta, a investigação, que são próprios da filosofia. Cada situação passa a ser uma nova oportunidade de aprendizado e professores e alunos começam a aprender mutuamente. A estrutura de funcionamento do método quântico também pode ser dividido em cinco elementos, também conhecidos como ciclos de aprendizado: Registrar: O professor captura o interesse, curiosidade e atenção do aluno. Experimentar: Criar ou extrair uma experiência comum, ou selecionar um conhecimento comum o qual todos estudantes podem relatar. A experiência antes do rótulo cria um esquema da construção do novo conteúdo. Aprender e rotular: Estudantes aprende a rotular, pensar habilidades e estratégias acadêmicas. Estudantes adicionam novo conteúdo ao esquema existente. Demonstrar: Dar aos estudantes oportunidades de demonstrar e aplicar seu novo aprendizado. Rever e refletir: Rever estratégias e autorizar o estudante a processar seu novo conteúdo através da reflexão. Celebrar: Reconhecer o aprendizado. Isto fortifica o conteúdo e satisfaz o aprendizado. A Filosofia como ferramenta educativa Grandes educadores da história Teoria das múltiplas inteligências Mapas mentais Folksonomia Educação quântica Paulo Roberto de Paula é acadêmico de Letras na UFMS, pesquisador da Pedagogia Quântica autor do livro ( ainda não editado ) DONA QUANTA. Contato 67 992700372.

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DONA QUANTA (Primeiro capitulo sem a devida correção) Na primeira aula de arte a professora do menino pediu para que ele desenhasse uma árvore. O menino pintou uma árvore todinha de preto e nunca tinha feito um desenho tão bonito, estava totalmente concentrado na produção do desenho. Desenhava e escrevia algo que lhe fazia rir com tanto entusiasmo que chamou atenção da turma que gargalhava com gosto, achando algo muito engraçado, até que um silêncio sepulcral tomou conta da sala. O menino percebeu um caminhar de tamanco ritmar o assoalho oco de madeira da sala de aula, o toc,toc, do caminhante estacionou na sua carteira e,o menino permaneceu de cabeça baixa, até que levantou a cabeça lentamente e viu uma senhora bater na palma da mão uma régua de madeira, dessa grande de um metro. Era a professora que olhou para o desenho do menino, com ar de desaprovação, balançando a cabeça e o ombro, intimidando-o, como quem queria desprezar algo disparou: - Onde já se viu uma árvore toda pintada de preto, eu já não te ensinei menino burro que a árvore tem caule marrom, folha verde e fruta vermelha ou amarela. A professora falou firme e com veemência, como se já conhecesse o menino de algum tempo e já tivesse lhe ensinado alguma outra lição. Mas era o primeiro dia do menino naquela escola. O menino parecia confuso quanto ao tempo que aquilo estava acontecendo. O que parece é que o tempo se encarrega de começar a reproduzir na vida do menino certa ação do passado, mesmo que em situação diferente, com outra pessoa, no presente, para que ele tentasse resolver agora o que ficou pendente na sua história. A professora não sabia do texto que o menino tinha escrito atrás do desenho da árvore toda pintada de preto, e foi logo recriminando o desenho, pois desconhecia o contexto da obra de arte produzida pelo menino. O texto se iniciava assim: “Era uma vez uma tempestade com raio e trovão, e uma árvore de caule marrom, folha verde, fruta vermelha e amarela. A árvore estava sozinha na pastagem verde quando veio um raio e “zump” queimou a árvore e ela ficou todinha preta. Ela não sabia do texto, pois examinou o desenho com um olhar distante e insensível, não esperou o menino contar a história do seu desenho, foi logo julgando pelo que lhe parecia lógico, e sendo indelicada com o menino, marcou sua caminhada lhe fazendo um favor. A professora cumpria sua missão, sendo colocada na vida do menino não por acaso, apesar da sua ignorância a cerca do desenvolvimento intelectual do menino, desencadeou o nascimento de um grande pensador. O método de abordagem da professora também poderia ter provocado um bloqueio criativo que poderia ter custado ao menino toda sua vida, porem, o menino era calmo e não se abalou. A partir deste acontecimento o menino percebeu o domínio orgânico que tinha do seu pensamento criador. Com isso descobriu que tinha uma capacidade pessoal de aprender e desvendar o mundo. Tinha uma força criadora que inquietava seu animo. Foi assim que aconteceu um rápido amadurecimento na vida intelectual do menino. Havia em toda sua experiência escolar um desencontro, e o episódio da reprovação de seu desenho acendeu nele uma chama, que tinha como combustão o comportamento da professora, que insistia em reproduzir um jeito arcaico de dar aula, o próprio sistema de ensino provocava no menino uma reação contrária, contraditória, de desconfiança, desconfiava sempre do conhecimento passado com insegurança pela professora. Apesar disso, desconfiar exercia no menino um fascínio pelo aprender. O curioso que para o menino aquele ensinamento maçante ficava cada dia mais interessante, para o restante da turma era só uma professora brava, o giz, a quadro negro e o velho livro didático. Para ele que extraia da formula quadrada da professora um pensamento novo, repleto de oxigenação, a escola era o celeiro onde nascia um fabuloso gigante. Acorda gigante meu, você é sementinha, o celeiro esta cheio, acorda e levanta todo esse reino, venha e rasgue a terra e dê frutos. Um anjo soprou estas palavras no ouvido do menino, e o menino ignorou, pois não sabia ainda discernir nada que não pudesse ver. Para quem já voava no rabo de um cometa pouco importava decorar na ordem de tamanho o nome de um planeta. A sua Trajetória estava pronta para se iniciar agora efetivamente. O tanque estava cheio de água e o menino tinha que irrigar a horta, o calor estava escaldante, entrar no tanque e dar um mergulho poderia atrasar o trabalho, existe na gente sempre uma luta interna entre o que se tem vontade e o que se pode fazer, em um menino fica difícil encontrar equilíbrio nesta balança, entrar no tanque e dar um mergulho foi a sua escolha naquele momento. Diante do menino tinha um tanque de água fresca e algum instante de alegria e refresco. No entanto era a hora do trabalho e a horta tinha que ser irrigada antes que seu avô-pai chegasse da feira onde foi vender as leguminosas que cultivava. O velho era um homem severo, rígido, cheio de regras e que não admitia que uma ordem sua fosse revogada. O pai-avô estava no caminho do menino, ele tinha pouca sensibilidade e sua meta era passar para o menino certa dose de responsabilidade para que ele crescesse gente homem. A infância do menino poderia ser deixada para trás, hoje ele devia ser independente e responder por si próprio. Agora o menino tinha deveres, horários a cumprir, tinha que pagar o prato de arroz e feijão, com o suor do rosto para que aprendesse a dar valor. Assim dizia o avô-pai do menino. A vida do menino estava cheia de energia e criatividade. O menino enchia a boca de água e soltava para fora do tanque, fazia onda com a mão e espalhava a preciosa água, puxada do poço de mais de 30 metros. Há pouco o sarilho chorou muito com peso do balde e o tanque se encheu com água limpa, à custa do desgaste do músculo do velho, já cansado daquela lida. O avô-pai do menino saiu, e ele brincava e cantava dentro do tanque, contemplando sensivelmente a sua infância. Tudo parecia tranqüilo até que o menino olhou para cima e viu o olho vermelho de um homem desfigurado. Parecia que seu avô-pai tinha virado um monstro e ainda estava em processo de metamorfose. O avô-pai apareceu diante do menino de surpresa, como um cão de rapina. Quando o menino percebeu, o velho já estava furioso, e com sua mão de ferro pegou no seu cabelo e o afundou no tanque. Iniciará ali uma sessão de afogamento. O menino passou toda aquela angústia de estar sendo afogado, sem ar, completamente sem defesa, e o homem bravo submergia e afundava o menino, freneticamente, sempre mais, com muita violência, e nos momentos em que ele submergia ouvia o menino o fragmento da voz do monstro, cheio de ódio e xingamento expelido em fúria. Já sem força o menino foi içado do tanque e atirado no chão. Na areia quente foi violentamente chutado, o sangue escorria pelo seu nariz. O avô-pai do menino parecia bêbado e transtornado. Pisoteou-o com o seu sapato, de solado de borracha rígida e, o corpo magro e frágil do menino sentia a agressão. Sem defesa o menino nada pode fazer. O ato covarde do avô-pai do menino foi impensado e extremamente radical. O menino ficou com o rosto todo ensangüentado, sob o chão de terra quente deu um último suspiro e sucumbiu em desmaio. Amoleceu a flor arrancada com violência, morreu o passarinho preso na gaiola sem água e pão, desapareceu a formiga pisoteada com um sapato com mais de sessenta quilos. Endureceu como uma pedra de gelo. Derreteu-se como um floco de neve e se evaporou para longe como gás. O homem não teve dó, nem piedade, e fez desaparecer na escuridão um único foco de luz, de um dia extremamente feliz na vida menino. O menino morreu? Não sei. A única coisa que sei é que o menino foi transportado inconsciente para outro mundo. Um mundo parecido com o nosso, talvez para o menino, um mundo melhor que estava para ser construído com sua própria força e trilhado por sua exclusiva vontade. Lá, não sei onde, exatamente, não sei se por sonho, ou por alguma força quântica, magia, ou ficção, o menino reapareceu recuperado. Já brincava com a ponta do seu dedo esverdeada e que ele fazia de avião, a toda velocidade, o avião-mão, iluminava uma sala, parecida com uma sala de aula. Sua boca funcionava como um motor supersônico e vibrava no ar ecoando no teto um som contagiante e forte. Chovia e dava para ouvir a água da chuva cair no telhado e no ladrilho. O menino parecia estar sozinho, em uma escola. Toda essa sala é minha, só minha. Pensou o menino com entusiasmo. Havia pouco movimento na escola, o pátio estava vazio, ouvia-se apenas o ruído da vassoura deslizando no piso e recolhendo o lixo. O menino brincava com seus dedos esverdeados, era piloto de um avião supersônico e o som do motor do avião vinha de seus pulmões, com toda sua força, e tinha que superar o som da vassoura. Uma guerra se iniciará ali, ele no ar, no comando do avião, e alguém por terra com uma vassoura. Disparou o primeiro e único míssil, e ele foi certeiro, “Pimba” acertou em cheio. Fogo. Gritou ele como se tivesse vencido a batalha. O arrastar da vassoura cessou. O silêncio durou pouco, logo estava no centro da porta da sala de aula, uma mulher, alta, gorda com o lábio parecido com uma barra de chocolate marrom. Ela olhou admirada para o menino, dividiu a barra de chocolate, num riso feliz, balançando a cabeça, e ele recolheu o avião feito com os seus dedos e saiu dali como num passe de mágica, entre a vassoura dela e o batente da porta. A chuva não dava trégua o pingo era forte, o menino não temia nada, saiu enfrentando seu pensamento com tubarão, monstro marinho e submarino, até que chegou em terra firme. Finalmente a chuva parou e ouvia-se o estouro do milho de pipoca, preparada na manteiga, o cheirinho gostoso da pipoca tomou conta da casa inteira e na frente da tv degustou caroço por caroço até que adormeceu dominado pelo cansado. Veio então uma mão macia que acariciou o rosto do menino, e arrumou o seu cabelo. A mão limpou o menino com uma toalha molhada e depois o secou com outra toalha seca e limpa. Não dava para interromper um sono tão profundo para que se pudesse dar no menino um verdadeiro banho, daquele banho que quando a mãe pega o filho e descobre sujeira onde ninguém mais acharia só uma mãe carinhosa. O menino foi pego no colo, levado para a cama e coberto com um sedoso cobertor. A doce senhora de mão macia e lábio de chocolate beijou o menino, apagou a lâmpada do quarto, iluminou seu passado negro enchendo de luz materna a sua nova vida, verificou se tudo estava seguro e saiu. Esse foi o primeiro dia do menino nesse novo mundo. O tempo passou dinamicamente; pois o tempo no mundo em que o menino vive agora é contado de maneira diferente do nosso. O menino sonhava ou estava vivendo uma nova realidade? A sensação de algo renovador permeava no agora a vida do menino. De quem era aquela mão amiga que o acariciava? Sua nova atitude e o modo em que rapidamente se recuperou indicavam que não mais se lembrava do seu passado. E diante de si, no seu presente, se deparava com um muro branco, gigante, de muita altura e cumprimento, que recepcionou o menino num dia novo de conquista e mistério. O muro de tão alto, mantinha o menino em silêncio, pensativo, enquanto esperava sua vez de ter permissão para penetrá-lo e sair do outro lado. No gigante branco, nenhum arranhão. O muro existia e se fazia presente na vida do menino para que ele pudesse contemplar a magnitude de um ser material superior a ele. O muro apareceu á sua frente talvez como um símbolo, um ícone, para demonstrar uma nova etapa na sua vida intelectual, que vai ser daqui para frente como um enigma ou um código para ser decifrado. O menino olhava tudo e ia de pouquinho assimilando o novo ambiente. O muro era o muro da sua nova escola? A vida continuava o seu curso, e o menino era outro, vivia com uma senhora amável, que o admirava, dava suporte para que sua criatividade aflorasse cada vez mais. Agora o menino tinha um lar de verdade, amor, carinho e tudo que era necessário para que ele acabasse de crescer e cumprisse a sua missão. Renasceu o menino no ceio de uma pessoa generosa, inteligente, que além de mãe amável, era uma educadora idealista que sonhava implantar no seu país um ensino dinâmico e mais humano. Queria Dona Quanta iniciar um movimento cultural que iria revolucionar o ensino. A escola do sonho de Quanta estava germinada no coração dela e no âmago de seu filho. Quanta e o menino viviam um para o outro. O amor incondicional nascido por força do destino era arrebatador e, mãe e filho transpiravam felicidade. Não sei como o menino conseguia passar pela fogueira com a brasa acessa e não queimava o pé. Essa coragem lhe deu boa fama e reputação na pequena vila rural que morava. Em toda festa de fogueira ele era chamado e tinha boca livre. Todo mundo lhe admirava, ele nunca aconselhou ninguém a por o pé no fogo, quem teimada ia por conta própria e se queimava. O menino conseguia passar e nem chamuscava o pelo da canela. Não sei que mistério tinha em torno disso. O que sei é que despertava muita atenção do pessoal e com isso ele passou a ser rodeado por quem queria saber o truque. Não existia truque, era só uma coragem. Dizia ele. O menino não fez promessa para santa, nunca foi de rezar. Isso de pular fogueira e pisar sob a brasa era somente lenda. Falava Dona Quanta, que ria muito, quando comentava do pulador de fogueira que era a maior sensação da festa. A única coisa que interessava ao menino nessa fama de pisador de brasa, que foi levada para escola, era o elogio de certa menina de cabelo cor de fogo que lhe via como uma espécie de super-herói. Ela era magrinha, ágil, espevitada, falante, imperativa e nunca o menino conheceu ninguém mais inteligente que ela. Ele, no entanto tinha movimentos suaves o olhar brilhante e cativador, gostava de ler, tinha apurado censo de justiça, buscava resolver tudo com voz moderada e se portava na sala como um juiz. O menino sempre opinava quando algum conflito era estabelecido na sala de aula, o método de Dona Quanta propiciava o embate, e tudo era resolvido ali mesmo pela turma. Agora já estavam na quinta série. Numa manhã de sexta-feira Dona Quanta ao entrar na sala abriu uma folha de jornal de um lado para o outro, á frente da sala, e a turma nada viu de anormal, só sei que a menina se assustou quando Dona Quanta, despejou toda água que estava no copo, e o jornal simplesmente não molhou, e nem a água derramou. Isso foi um truque de mágica! Anunciou a menina com toda força de seu pulmão, e a sala toda aplaudiu com algazarra. A aula de Dona Quanta sempre foi assim, quando ela percebia que a turma estava cansada tinha sempre um truque novo na manga para mostrar. Ela gostava de ouvir música com a gente. Por ela não precisaria prova para avaliar a turma. Dona Quanta dizia que esse método de prova não provava que se aprendeu. Sempre ele ouvia Dona Quanta afirmar: Só de conversar individualmente com meu aluno eu sei se ele aprendeu o conteúdo, o meu sonho é que o ensino nesta escola fosse parlamentar. Essa frase caia no vazio para a maioria da sala, para o menino Dona Quanta queria lhe ensinar algo importante com isso, que ele não sabia exatamente o que seria. Sabe quando um professor explica algo na sala para a turma e parece que só esta explicando para você. O menino tinha essa impressão, com seu olhar confirmativo e o balançar da cabeça ele admitia a explicação dela, a fala da Dona Quanta sempre vinha ao seu encontro. De certa maneira com esse costume ela fazia dele o seu cúmplice e cobaia de um método, isso de um jeito indireto, Quanta lhe motivava na busca de solução para um problema em especial que ainda tinha para resolver no futuro. A Mochila estava com excesso de roupa, tudo levava a crer que a viagem que o menino e sua turma da quinta série iria fazer, seria longa e demorada. A menina magricela mal agüentou levantar do chão a mochila do menino, a turma estava eletrizada, o bagageiro da condução ficou super lotado, estava tudo pronto para a partida. O programa de Dona Quanta sempre foi concorrido, divertido e acima de tudo didático, a professora sabia como ninguém tirar proveito de uma atividade externa. Dona Quanta contratou por sua conta um montanhista renomado para dirigir o acampamento, ele fora escoteiro, conhecia bem a região, tinha muito carisma com a moçada, foi amigo de Dona Quanta na infância e se reencontrou com ela depois de 30 anos. Quanta se preservou solteirona, e sempre se lembrava dele com carinho. Logo todos estavam na estação de trem, era tanta bagagem que o chefe da estação olhou admirado. A viagem de trem seria demorada, com certeza seria divertidíssima, ali ninguém tinha pressa para chegar, a paisagem logo se encarregaria de espairecer o ambiente, o rio Aquidauana se apresentou majestoso, um cardume de Piraputanga pulava rio acima, em busca de água mais quente para se procriar, o balé na cachoeira foi um espetáculo inesquecível, a natureza do pantanal fez o menino feliz e naquele momento o que importava era ficar em harmonia com o rio. Quanta e sua turma chegaram a Coronel Camisão no dia 23 de Dezembro de 1982, na hora prevista. Camisão é um povoado no pé da montanha, o morro do diabo, como era conhecido, sua população era formada por uma tribo guarani que usava camisa do flamengo e celular, logo se viu o aldeamento. O montanhista fez a distribuição da trupe, o acampamento se ergueu e, o burilar da turma foi de pouquinho se apagando até que o último lampião provocou um brek-out e um silêncio harmonioso do cantar de grilo e cigarra, tomou conta da noite. Nunca foi tão fácil pôr adolescente elétrico para dormir, o trabalho, o esforço físico se encarregou de dar o toque de recolher e a noite passou a dominar o sono. Na manhã seguinte, um toque de berrante despertou o acampamento, era madrugadinha, o sol ainda era tímido e se abria no fundilho do diabo, o velho morro, que no passado fez sombra para o mar e fora abrigo de besta fera, agora se mostrava um menino renovado, cheio de mistério. Seria ele o objeto do despertar da tropa, alcançar o seu pico era o programa do dia, recolher vestígio de antiga civilização, encontrar resto de dinossauro, e quem sabe na noite repleta de estrela ver um óvni e fotografá-lo para o deleite da gurizada. Quanta delirava que nem criança tinha o direito de sonhar com o lúdico e o inesperado, afinal era professora e uma professora que perde o prazer do lúdico, perde o amor pela profissão. A fila indiana ficou longa, o chefe cantava e a turma repetia a canção num coro cadenciado de exercito, o casal de arara azul se espantou com a ordenada cantiga. A menina de cabelo de fogo sorria para o menino pisador de brasa, e num determinado trecho ela pegou na mão dele e não mais largou. Na passagem de um obstáculo e outro a ajuda era mútua e carinhosa, tudo concorria para que fosse iniciada naquela viagem uma grande história de amor, tendo como cenário; uma montanha e um nascer de sol inspirador. Neste ponto do trajeto a moçada foi dividida, cada grupo com um mapa, uma bússola e equipamento de escalada. Atentamente ouviram a preleção do diretor e de Quanta. Era evidente a ansiedade, num misto de medo e coragem, a adrenalina dava sinal de alterar o animo, cada equipe tinha tempo para chegar a determinado ponto demarcado, a atividade valeria uma pontua-ção, e a equipe vencedora receberia um kit de comida, roupa de cama e água fresca. A jornada se iniciou e logo já não se via ninguém mais por perto. A turma tomou a mata, cada qual numa direção. Quanta, o diretor e uma equipe de apoio formada por gente do local, subiram pelo oeste, seguindo um filete d’água que ia dar exatamente no ponto de encontro, com antecedência suficiente para quando chegasse a turma o rango estaria pronto. Essa era a previsão do diretor, Quanta se limitava a concordar e a rezar discretamente. Naquela hora ter fé era importante. Sua responsabilidade era enorme, carregava o peso, tanto da bagagem pessoal, quanto da ansiedade, tinha expectativa de logo abraçar pupilo por pupilo, que se aventuravam mata adentro. O diretor percebia a preocupação de Quanta e apertava-lhe o queixo delicadamente com carinho na tentativa de dizer com o gesto, que tudo estava sobre controle. O tempo passou, caminhada na mata foi um sucesso. A turma se encontrou exatamente como fora planejado pelo montanhista que ainda despertava suspiro em Dona Quanta, e na conferencia de pessoal, o menino, a menina espevitada e toda a galera estavam ali são e salva com muita história para contar. Caminharam o dia inteiro, e a noitinha todo mundo estava em volta da fogueira para a realização do fogo de conselho. O jantar fora servido. Frango defumado assado na fogueira e suco de pêssego, um cardápio e tanto, para um dia cansativo e acima de tudo divertido. O desgaste da caminhada fez da menina de cabelo de fogo, uma moça de movimento leve e suave e do menino alguém inclinado a jantar sem banho e a dormir sem culpa. Dona Quanta amanheceu disposta a por um pouco de cérebro naquela programação, todo esforço físico foi para alcançarem o topo do morro do diabo, agora Quanta teve a idéia de pedir para a turma recolher planta e bicho morto para catalogar, e em determinado local designou para que uma equipe fizesse uma escavação, havia uma suspeita de no local ter algo interessante para ser descoberto. O dia foi ocupado com sabedoria e uma aula muito divertida, um punhado de coisa foi ensacado e catalogado. Uma concha marinha foi descoberta pela menina serelepe, que elétrica anunciou o achado com tanta festa que parecia ter encontrado um tesouro, tão longe do mar, mais uma prova de que o morro já fez parte do habitat marinho. Um caco de cerâmica indígena foi pincelado pelo menino e observado com tanta fixação que despertou a atenção do diretor do acampamento. Era vestígio de uma peça Marajoara. Como pode uma peça dessa aqui, se a civilização Marajoara habitou o território amazônico, será que esse território se estendia até ao sul do Matogrosso! Ninguém entendeu se a fala do diretor foi de afirmação, exclamação, ou um questionamento, o que se entendeu foi que tudo naquele pedaço de chão escondia muito mistério e encanta-mento. O olhar do menino se cruzava com o da menina de cabelo de fogo, e já se via uma afinidade, que culminou com um beijo, gesto meio que ignorado por Quanta, mas aplaudido pela turma que nada deixava passar. O dia foi repleto de emoção, o material era farto e tudo seria levado para a escola. Um amarrado de cipó, fixado por resina, provavelmente de peroba, e com vestígio de defumação e odor forte de erva, talvez uma espécie de cachimbo indígena, foi a melhor peça encontrada. E por causa dela a equipe da menina e do menino apaixonado, acumulou mais uma pontuação. O retorno á base, seria feito dentro da mesma temática, orientado pela bússola, e pré-marcado o tempo do percurso, que dessa vez, seria invertido, uma equipe deveria voltar no caminho vindo pela outra, assim poderia a equipe observar e mapear algum obstáculo ainda não vivenciado na vinda. Mochila refeita o pessoal partiu para a descida. Quanta e o diretor seguiram pelo mesmo caminho da subida, seguindo o riacho e o véu de noiva. Sendo essa cachoeira o cenário para a confirmação do amor dos dois e o inicio de um drama irrecuperável na vida de Quanta. A vida revelaria seu lado cruel, naquele encontro com a cachoeira véu de noiva estava o destino de Quanta, nunca, em lugar algum, poderia acontecer uma revelação fenomênica desse nível. Quando se está muito feliz, há sempre o medo e a insegurança que esse período gostoso acabe em tragédia. Quanta sempre foi uma rocha forte, mas por mais forte que seja a rocha á sempre um abalo significativo em sua estrutura quando o terremoto é repentino e cruel. O véu de noiva se entendia por vinte metros em queda livre, não se poderia passar por ela sem contemplar a sua rara beleza, ali parecia o templo de algum Deus, o vento do espírito respingava sobre o seu corpo, e cada gotícula vinha a seu encontro como um refresco, até que do fundo de uma caverna escura, a sombra de uma mão estendeu o dedo indicador, que de tão longo parecia um minúsculo galho esticado em cem milhões de vezes, a sombra daquele dedo esdrúxulo e descomunal se esticou do fundo da caverna negra e parou bem no peito de Quanta. Ela ficou perplexa, embora gelada pelo respingo da cachoeira, ficou com a temperatura do corpo elevada, teve medo, e no instante que o dedo parou em seu peito, conseguiu se equilibrar e recuperou o fôlego perdido com o susto. Não se sabe o que era aquilo, uma sombração, uma falsa impressão, apenas um galho de uma arvore, ou um fenômeno natural, quem sabe. O fato é que Quanta não entendeu, teve uma sensação diferente, real, de que alguém com uma mão misteriosa queria atingir o seu centro. Avisá-la de algo, talvez, ninguém viu isso acontecer, foi rápido e logo passou, e ela procurou esquecer o dedo elástico da sombra negra e continuou a olhar com destreza a cachoeira e a vegetação a seu redor. Não comentou nada com ninguém, nem mesmo com o montanhista, apenas se limitou a perguntar a ele, se acreditava em aparição de espírito, ou em algum tipo de aviso e comunicação da natureza com os homens. Ele era cético, não acreditava em nada que a ciência não poderia comprovar, não era ligado nessas coisas de religião, apenas admirava a pureza dos nativos em respeitar e reverenciar a natureza. Quanta guardou a misteriosa aparição da sombra para si, no seu intimo, que volta e meia incomodava o seu inconsciente. Mesmo assim o papo de Quanta o agradou, pois ela estava ainda mais doce e amável, carente, pedindo ombro ou colo. Ele fazia-se de ouvinte atento enquanto caminhava ao lado dela, e Quanta admirava o amigo, a sua disposição física, o seu dote físico aliado a sua inteligência fazia dele um homem ideal, se é que para certas mulheres existe no mundo um homem ideal, se bem que no mundo de certa mulher o homem ideal é aquele que a ama incondicionalmente, independente de suas qualidades ou defeitos. Quanta se aproximava dele fazendo-lhe um elogio a traz do outro, chegando a ponto de, diante da cachoeira, em uma enorme pedra de cristal, não se conterem, e ali mesmo, num beijo ardente, Quanta e Roberto se amaram loucamente. Afinal esse momento era esperado por eles a mais de trinta nos, cada um tomou o seu rumo após o tempo de escola, no entanto acabaram se reencontrando, perceberam que poderiam encontrar a felicidade juntos, e faltava o teste de química, de ciência quântica, onde se inclui o olfato onde fica registrado o cheiro do corpo, da respiração, um ver o outro para que mesmo distante possa se identificar quem é. A percepção da maciez da pele, o toque no cabelo, e principalmente um aprender a ler na entre linha o desejo um do outro, e finalmente é preciso amar o suficiente para que o espírito de cada um possa se reencontrar mesmo que o infinito do cosmo dê a sensação de separação eterna. O átomo que se desmembra do outro, mesmo separado acaba formando outra composição, jamais perde sua raiz, e da mesma forma que se desprende se une, inesperadamente, em algum tempo, por um objetivo comum se reencontra, e se une, progressivamente, formando um novo tom, dando seqüência a outra concepção. Com estas solenes palavras Quanta colocou na cabeça de seu amado uma coroa feita de folhas e galhos. E ele repetiu o gesto retirando a coroa de sua cabeça e acomodando-a em Quanta. Roberto Repetiu o mesmo ritual, apenas acrescentando no final: Eu amo você, sempre amei e a amarei eternamente. Diante do véu de noiva, em plena natureza se casaram, tendo como testemunha uma sombra que insistia em ver tudo bem de perto em silêncio, como um Quarks. O pé do morro do diabo estava cheio de gente preocupada com a professora Quanta e o diretor do acampamento, o atraso causou preocupação na turma a ponto de já tramarem o retorno de uma equipe para o resgate que era para ser liderada pela menina cabelo de fogo, que não tinha a menor vocação para espera. O menino acreditava que a equipe do diretor a qualquer momento apareceria, e foi exatamente isso o que aconteceu sob a algazarra e o alivio da rapaziada, que se abraçaram fraternalmente. O diretor reuniu a equipe, conferiu o pessoal e o material, e logo, com certa pressa, rumaram em direção a estação de Coronel Camisão para entrarem no trem e seguirem viagem de volta para casa. O acampamento só acabaria na escola, na aula de Quanta, que divulgaria a pontuação e a equipe vencedora. No dia seguinte, na escola, bem cedinho, o acampamento estava exposto no mural, e fervilhou o fala-fala sobre a expedição. O material coletado no morro do diabo seria também exposto posteriormente pela quinta série, a atividade rendeu muito texto, exposição, vídeo, tese, e didaticamente fora um sucesso. Era evidente a alegria em estudar naquela semana. Cálculo matemático foi proposto por Dona Quanta, quantificar tudo, pareceria redundância, e a coincidência com o nome da professora era motivo de zoeira. Quantificar o tempo, o peso da mochila, o gasto com comida, equipamento, passagem, volume da água do rio, a espécie de peixe pescada, a comida regional, o meio de transporte, a cultura do povo local, o aspecto geográfico da região, a confecção de mapa, a analise do material encontrado e sua catalogação e exposição. E assim fazer de um simples acampamento algo extremamente importante na vida escolar. Poder ir alem de um dado concreto seria o objetivo final daquela aula e isso foi conseguido por Dona Quanta e por toda a sua quinta série, que ficou marcada pela aproximação e, principalmente por um aprendizado real e empolgante. Foi tão importante o acampamento para o menino, dando a ele uma excepcional base, que hoje, consegue narrar o fato, com detalhe simbólico, entendendo que na vida tudo é símbolo. O menino esteve lá, mesmo de maneira quântica, esteve lá, na sala de aula, de uma professora á frente de seu tempo, num mundo possível e dinamicamente avançado. Era um dia de sábado, um tempo enorme a frente do dia daquele acampamento, a feira livre ainda encantava o menino e a menina, que agora adultos, fazia o seu passado refletir naquele momento especial do presente. O grito vivaz do feirante, a cor e a forma de tudo, o cheiro do pescado e o da flor se misturando, e o menino tentando identificar. O povo passando, pedinchando a mercadoria. A menina fotografando tudo e sorrindo. Parecia ou era uma tarefa de escola? Uma pesquisa escolar sugerida por Dona Quanta? Dona Quanta que se fundia com a escola. A escola de Dona Quanta estava dentro de outra escola, a do governo. A menina parou numa banca que tinha para vender uma tartaruguinha e não resistiu, comprou a pequenininha e a colocou dentro de uma caixinha e, foram para a casa de Dona Quanta, levar a ela aquele presente e visitá-la, após muitos anos. O dia estava quente, ensolarado, Edu segurava na mão de Nina que caminhava equilibrando e revezando a caixinha na mão que ficava livre. A casa de Dona Quanta era perto da feira, mas naquele dia parecia longe, não chegava nunca. O menino andava chutando o ar tinha a sensação de estar vagando num sonho e, levitando e andando, chutando o ar, percebendo que não saia do lugar. Isso acontecia com o menino, não com o Edu, que na verdade caminhava normalmente de mãos dadas com a namorada. Ele via uma pessoa grande, extremamente grande, viu um homem de bigode enorme, chapéu desproporcional a cabeça, como um objeto retorcido, isso acontecia numa espécie de surto paralelo a normalidade da caminhada. Só na cabeça e no inconsciente do menino havia esse caos inexplicável, a ponto de pedir para parar e reconquistar a consciência. Nina mesmo ausente da cidade por uma década identificou a rua da casa de Dona Quanta, e viu um movimento estranho na frente, um carro preto parado, de lá saiu um homem cabisbaixo. Edu e Nina ficaram sem saber ao certo o que acontecia. O menino largou a mão da menina entrou sala adentro sem pedir licença, viu no centro da sala, um caixão envernizado e brilhante. Ergueu a cabeça lentamente, identificou um crucifixo prateado. Foi então se aproximando cada vez mais, correndo o olhar vagarosamente, e ao identificar o rosto de Dona Quanta, não se conteve, apertou os dedos e contraiu violentamente a boca e chorou. Não acreditou no que estava vendo. O mundo para o menino desabou sobre ele. Perdeu totalmente o controle e gritava violentamente, gritava tão forte que seu pranto se ouvia lá fora da casa, se ouvia no fim do mundo, atraindo uma multidão para observar o que acontecia. A menina serelepe de cabelo cor de fogo agachou-se como uma rã, e se encolhia tanto, ficando tão miudinha que parecia que queria passar no buraco do ladrilho vermelho. Ela gritava e chorava, fazendo doer o coração, a ponto de uma senhorinha, recolher a menina e tentar acalmá-la. Era Dona Quanta mesmo, ali naquele caixão, e ninguém podia fazer mais nada a não ser rezar e rezar incansavelmente. Num instante a casa ficou pequena, a turma daquela quinta serie dos anos 80 chegou feito relâmpago, a turma toda veio, e ninguém esperava uma tragédia desta. A comoção era geral. Nina pegou a caixinha com a tartaruguinha e entregou-a a uma menininha que a olhava com carinho. Edu fora amparado pelo professor Roberto, que ao lado de Quanta viveu feliz após aquele casamento no véu de noiva. Havia muito choro. Dona Quanta não fora acometida por nenhuma doença, o tempo consumiu sua energia. Nenhuma lembrança ou medo perturbava o seu espírito, e não quis se despedir de nada e de ninguém. Assim foi perdendo a consciência até morrer serenamente. Dona Quanta tinha noventa de magistério, Cento e Três anos de idade. Começou ser professora ainda menina ensinando o abecedário para índio e negro da fazenda de seu pai. Dona Quanta construiu uma história de vida que emociona. Quem com ela tivera o prazer de estudar e conviver sempre lembrará dela como uma mestre, dela nasceu a frase: A arte é a mestra mãe do conhecimento humano e dela nasce toda ciência. Dela nasceu método Quarks. A sala de aula estava preparada para a aula espetáculo, aconteceria ali um julgamento, de um lado o júri popular formado pela comunidade, o Juiz, o promotor, e do outro lado o advogado da ré, e a ré: a escola pública, conservadora, repleta de vício e comodismo. Paulo Roberto de Paula.

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DONA QUANTA (Primeiro capitulo sem a devida correção) Na primeira aula de arte a professora do menino pediu para que ele desenhasse uma árvore. O menino pintou uma árvore todinha de preto e nunca tinha feito um desenho tão bonito, estava totalmente concentrado na produção do desenho. Desenhava e escrevia algo que lhe fazia rir com tanto entusiasmo que chamou atenção da turma que gargalhava com gosto, achando algo muito engraçado, até que um silêncio sepulcral tomou conta da sala. O menino percebeu um caminhar de tamanco ritmar o assoalho oco de madeira da sala de aula, o toc,toc, do caminhante estacionou na sua carteira e,o menino permaneceu de cabeça baixa, até que levantou a cabeça lentamente e viu uma senhora bater na palma da mão uma régua de madeira, dessa grande de um metro. Era a professora que olhou para o desenho do menino, com ar de desaprovação, balançando a cabeça e o ombro, intimidando-o, como quem queria desprezar algo disparou: - Onde já se viu uma árvore toda pintada de preto, eu já não te ensinei menino burro que a árvore tem caule marrom, folha verde e fruta vermelha ou amarela. A professora falou firme e com veemência, como se já conhecesse o menino de algum tempo e já tivesse lhe ensinado alguma outra lição. Mas era o primeiro dia do menino naquela escola. O menino parecia confuso quanto ao tempo que aquilo estava acontecendo. O que parece é que o tempo se encarrega de começar a reproduzir na vida do menino certa ação do passado, mesmo que em situação diferente, com outra pessoa, no presente, para que ele tentasse resolver agora o que ficou pendente na sua história. A professora não sabia do texto que o menino tinha escrito atrás do desenho da árvore toda pintada de preto, e foi logo recriminando o desenho, pois desconhecia o contexto da obra de arte produzida pelo menino. O texto se iniciava assim: “Era uma vez uma tempestade com raio e trovão, e uma árvore de caule marrom, folha verde, fruta vermelha e amarela. A árvore estava sozinha na pastagem verde quando veio um raio e “zump” queimou a árvore e ela ficou todinha preta. Ela não sabia do texto, pois examinou o desenho com um olhar distante e insensível, não esperou o menino contar a história do seu desenho, foi logo julgando pelo que lhe parecia lógico, e sendo indelicada com o menino, marcou sua caminhada lhe fazendo um favor. A professora cumpria sua missão, sendo colocada na vida do menino não por acaso, apesar da sua ignorância a cerca do desenvolvimento intelectual do menino, desencadeou o nascimento de um grande pensador. O método de abordagem da professora também poderia ter provocado um bloqueio criativo que poderia ter custado ao menino toda sua vida, porem, o menino era calmo e não se abalou. A partir deste acontecimento o menino percebeu o domínio orgânico que tinha do seu pensamento criador. Com isso descobriu que tinha uma capacidade pessoal de aprender e desvendar o mundo. Tinha uma força criadora que inquietava seu animo. Foi assim que aconteceu um rápido amadurecimento na vida intelectual do menino. Havia em toda sua experiência escolar um desencontro, e o episódio da reprovação de seu desenho acendeu nele uma chama, que tinha como combustão o comportamento da professora, que insistia em reproduzir um jeito arcaico de dar aula, o próprio sistema de ensino provocava no menino uma reação contrária, contraditória, de desconfiança, desconfiava sempre do conhecimento passado com insegurança pela professora. Apesar disso, desconfiar exercia no menino um fascínio pelo aprender. O curioso que para o menino aquele ensinamento maçante ficava cada dia mais interessante, para o restante da turma era só uma professora brava, o giz, a quadro negro e o velho livro didático. Para ele que extraia da formula quadrada da professora um pensamento novo, repleto de oxigenação, a escola era o celeiro onde nascia um fabuloso gigante. Acorda gigante meu, você é sementinha, o celeiro esta cheio, acorda e levanta todo esse reino, venha e rasgue a terra e dê frutos. Um anjo soprou estas palavras no ouvido do menino, e o menino ignorou, pois não sabia ainda discernir nada que não pudesse ver. Para quem já voava no rabo de um cometa pouco importava decorar na ordem de tamanho o nome de um planeta. A sua Trajetória estava pronta para se iniciar agora efetivamente. O tanque estava cheio de água e o menino tinha que irrigar a horta, o calor estava escaldante, entrar no tanque e dar um mergulho poderia atrasar o trabalho, existe na gente sempre uma luta interna entre o que se tem vontade e o que se pode fazer, em um menino fica difícil encontrar equilíbrio nesta balança, entrar no tanque e dar um mergulho foi a sua escolha naquele momento. Diante do menino tinha um tanque de água fresca e algum instante de alegria e refresco. No entanto era a hora do trabalho e a horta tinha que ser irrigada antes que seu avô-pai chegasse da feira onde foi vender as leguminosas que cultivava. O velho era um homem severo, rígido, cheio de regras e que não admitia que uma ordem sua fosse revogada. O pai-avô estava no caminho do menino, ele tinha pouca sensibilidade e sua meta era passar para o menino certa dose de responsabilidade para que ele crescesse gente homem. A infância do menino poderia ser deixada para trás, hoje ele devia ser independente e responder por si próprio. Agora o menino tinha deveres, horários a cumprir, tinha que pagar o prato de arroz e feijão, com o suor do rosto para que aprendesse a dar valor. Assim dizia o avô-pai do menino. A vida do menino estava cheia de energia e criatividade. O menino enchia a boca de água e soltava para fora do tanque, fazia onda com a mão e espalhava a preciosa água, puxada do poço de mais de 30 metros. Há pouco o sarilho chorou muito com peso do balde e o tanque se encheu com água limpa, à custa do desgaste do músculo do velho, já cansado daquela lida. O avô-pai do menino saiu, e ele brincava e cantava dentro do tanque, contemplando sensivelmente a sua infância. Tudo parecia tranqüilo até que o menino olhou para cima e viu o olho vermelho de um homem desfigurado. Parecia que seu avô-pai tinha virado um monstro e ainda estava em processo de metamorfose. O avô-pai apareceu diante do menino de surpresa, como um cão de rapina. Quando o menino percebeu, o velho já estava furioso, e com sua mão de ferro pegou no seu cabelo e o afundou no tanque. Iniciará ali uma sessão de afogamento. O menino passou toda aquela angústia de estar sendo afogado, sem ar, completamente sem defesa, e o homem bravo submergia e afundava o menino, freneticamente, sempre mais, com muita violência, e nos momentos em que ele submergia ouvia o menino o fragmento da voz do monstro, cheio de ódio e xingamento expelido em fúria. Já sem força o menino foi içado do tanque e atirado no chão. Na areia quente foi violentamente chutado, o sangue escorria pelo seu nariz. O avô-pai do menino parecia bêbado e transtornado. Pisoteou-o com o seu sapato, de solado de borracha rígida e, o corpo magro e frágil do menino sentia a agressão. Sem defesa o menino nada pode fazer. O ato covarde do avô-pai do menino foi impensado e extremamente radical. O menino ficou com o rosto todo ensangüentado, sob o chão de terra quente deu um último suspiro e sucumbiu em desmaio. Amoleceu a flor arrancada com violência, morreu o passarinho preso na gaiola sem água e pão, desapareceu a formiga pisoteada com um sapato com mais de sessenta quilos. Endureceu como uma pedra de gelo. Derreteu-se como um floco de neve e se evaporou para longe como gás. O homem não teve dó, nem piedade, e fez desaparecer na escuridão um único foco de luz, de um dia extremamente feliz na vida menino. O menino morreu? Não sei. A única coisa que sei é que o menino foi transportado inconsciente para outro mundo. Um mundo parecido com o nosso, talvez para o menino, um mundo melhor que estava para ser construído com sua própria força e trilhado por sua exclusiva vontade. Lá, não sei onde, exatamente, não sei se por sonho, ou por alguma força quântica, magia, ou ficção, o menino reapareceu recuperado. Já brincava com a ponta do seu dedo esverdeada e que ele fazia de avião, a toda velocidade, o avião-mão, iluminava uma sala, parecida com uma sala de aula. Sua boca funcionava como um motor supersônico e vibrava no ar ecoando no teto um som contagiante e forte. Chovia e dava para ouvir a água da chuva cair no telhado e no ladrilho. O menino parecia estar sozinho, em uma escola. Toda essa sala é minha, só minha. Pensou o menino com entusiasmo. Havia pouco movimento na escola, o pátio estava vazio, ouvia-se apenas o ruído da vassoura deslizando no piso e recolhendo o lixo. O menino brincava com seus dedos esverdeados, era piloto de um avião supersônico e o som do motor do avião vinha de seus pulmões, com toda sua força, e tinha que superar o som da vassoura. Uma guerra se iniciará ali, ele no ar, no comando do avião, e alguém por terra com uma vassoura. Disparou o primeiro e único míssil, e ele foi certeiro, “Pimba” acertou em cheio. Fogo. Gritou ele como se tivesse vencido a batalha. O arrastar da vassoura cessou. O silêncio durou pouco, logo estava no centro da porta da sala de aula, uma mulher, alta, gorda com o lábio parecido com uma barra de chocolate marrom. Ela olhou admirada para o menino, dividiu a barra de chocolate, num riso feliz, balançando a cabeça, e ele recolheu o avião feito com os seus dedos e saiu dali como num passe de mágica, entre a vassoura dela e o batente da porta. A chuva não dava trégua o pingo era forte, o menino não temia nada, saiu enfrentando seu pensamento com tubarão, monstro marinho e submarino, até que chegou em terra firme. Finalmente a chuva parou e ouvia-se o estouro do milho de pipoca, preparada na manteiga, o cheirinho gostoso da pipoca tomou conta da casa inteira e na frente da tv degustou caroço por caroço até que adormeceu dominado pelo cansado. Veio então uma mão macia que acariciou o rosto do menino, e arrumou o seu cabelo. A mão limpou o menino com uma toalha molhada e depois o secou com outra toalha seca e limpa. Não dava para interromper um sono tão profundo para que se pudesse dar no menino um verdadeiro banho, daquele banho que quando a mãe pega o filho e descobre sujeira onde ninguém mais acharia só uma mãe carinhosa. O menino foi pego no colo, levado para a cama e coberto com um sedoso cobertor. A doce senhora de mão macia e lábio de chocolate beijou o menino, apagou a lâmpada do quarto, iluminou seu passado negro enchendo de luz materna a sua nova vida, verificou se tudo estava seguro e saiu. Esse foi o primeiro dia do menino nesse novo mundo. O tempo passou dinamicamente; pois o tempo no mundo em que o menino vive agora é contado de maneira diferente do nosso. O menino sonhava ou estava vivendo uma nova realidade? A sensação de algo renovador permeava no agora a vida do menino. De quem era aquela mão amiga que o acariciava? Sua nova atitude e o modo em que rapidamente se recuperou indicavam que não mais se lembrava do seu passado. E diante de si, no seu presente, se deparava com um muro branco, gigante, de muita altura e cumprimento, que recepcionou o menino num dia novo de conquista e mistério. O muro de tão alto, mantinha o menino em silêncio, pensativo, enquanto esperava sua vez de ter permissão para penetrá-lo e sair do outro lado. No gigante branco, nenhum arranhão. O muro existia e se fazia presente na vida do menino para que ele pudesse contemplar a magnitude de um ser material superior a ele. O muro apareceu á sua frente talvez como um símbolo, um ícone, para demonstrar uma nova etapa na sua vida intelectual, que vai ser daqui para frente como um enigma ou um código para ser decifrado. O menino olhava tudo e ia de pouquinho assimilando o novo ambiente. O muro era o muro da sua nova escola? A vida continuava o seu curso, e o menino era outro, vivia com uma senhora amável, que o admirava, dava suporte para que sua criatividade aflorasse cada vez mais. Agora o menino tinha um lar de verdade, amor, carinho e tudo que era necessário para que ele acabasse de crescer e cumprisse a sua missão. Renasceu o menino no ceio de uma pessoa generosa, inteligente, que além de mãe amável, era uma educadora idealista que sonhava implantar no seu país um ensino dinâmico e mais humano. Queria Dona Quanta iniciar um movimento cultural que iria revolucionar o ensino. A escola do sonho de Quanta estava germinada no coração dela e no âmago de seu filho. Quanta e o menino viviam um para o outro. O amor incondicional nascido por força do destino era arrebatador e, mãe e filho transpiravam felicidade. Não sei como o menino conseguia passar pela fogueira com a brasa acessa e não queimava o pé. Essa coragem lhe deu boa fama e reputação na pequena vila rural que morava. Em toda festa de fogueira ele era chamado e tinha boca livre. Todo mundo lhe admirava, ele nunca aconselhou ninguém a por o pé no fogo, quem teimada ia por conta própria e se queimava. O menino conseguia passar e nem chamuscava o pelo da canela. Não sei que mistério tinha em torno disso. O que sei é que despertava muita atenção do pessoal e com isso ele passou a ser rodeado por quem queria saber o truque. Não existia truque, era só uma coragem. Dizia ele. O menino não fez promessa para santa, nunca foi de rezar. Isso de pular fogueira e pisar sob a brasa era somente lenda. Falava Dona Quanta, que ria muito, quando comentava do pulador de fogueira que era a maior sensação da festa. A única coisa que interessava ao menino nessa fama de pisador de brasa, que foi levada para escola, era o elogio de certa menina de cabelo cor de fogo que lhe via como uma espécie de super-herói. Ela era magrinha, ágil, espevitada, falante, imperativa e nunca o menino conheceu ninguém mais inteligente que ela. Ele, no entanto tinha movimentos suaves o olhar brilhante e cativador, gostava de ler, tinha apurado censo de justiça, buscava resolver tudo com voz moderada e se portava na sala como um juiz. O menino sempre opinava quando algum conflito era estabelecido na sala de aula, o método de Dona Quanta propiciava o embate, e tudo era resolvido ali mesmo pela turma. Agora já estavam na quinta série. Numa manhã de sexta-feira Dona Quanta ao entrar na sala abriu uma folha de jornal de um lado para o outro, á frente da sala, e a turma nada viu de anormal, só sei que a menina se assustou quando Dona Quanta, despejou toda água que estava no copo, e o jornal simplesmente não molhou, e nem a água derramou. Isso foi um truque de mágica! Anunciou a menina com toda força de seu pulmão, e a sala toda aplaudiu com algazarra. A aula de Dona Quanta sempre foi assim, quando ela percebia que a turma estava cansada tinha sempre um truque novo na manga para mostrar. Ela gostava de ouvir música com a gente. Por ela não precisaria prova para avaliar a turma. Dona Quanta dizia que esse método de prova não provava que se aprendeu. Sempre ele ouvia Dona Quanta afirmar: Só de conversar individualmente com meu aluno eu sei se ele aprendeu o conteúdo, o meu sonho é que o ensino nesta escola fosse parlamentar. Essa frase caia no vazio para a maioria da sala, para o menino Dona Quanta queria lhe ensinar algo importante com isso, que ele não sabia exatamente o que seria. Sabe quando um professor explica algo na sala para a turma e parece que só esta explicando para você. O menino tinha essa impressão, com seu olhar confirmativo e o balançar da cabeça ele admitia a explicação dela, a fala da Dona Quanta sempre vinha ao seu encontro. De certa maneira com esse costume ela fazia dele o seu cúmplice e cobaia de um método, isso de um jeito indireto, Quanta lhe motivava na busca de solução para um problema em especial que ainda tinha para resolver no futuro. A Mochila estava com excesso de roupa, tudo levava a crer que a viagem que o menino e sua turma da quinta série iria fazer, seria longa e demorada. A menina magricela mal agüentou levantar do chão a mochila do menino, a turma estava eletrizada, o bagageiro da condução ficou super lotado, estava tudo pronto para a partida. O programa de Dona Quanta sempre foi concorrido, divertido e acima de tudo didático, a professora sabia como ninguém tirar proveito de uma atividade externa. Dona Quanta contratou por sua conta um montanhista renomado para dirigir o acampamento, ele fora escoteiro, conhecia bem a região, tinha muito carisma com a moçada, foi amigo de Dona Quanta na infância e se reencontrou com ela depois de 30 anos. Quanta se preservou solteirona, e sempre se lembrava dele com carinho. Logo todos estavam na estação de trem, era tanta bagagem que o chefe da estação olhou admirado. A viagem de trem seria demorada, com certeza seria divertidíssima, ali ninguém tinha pressa para chegar, a paisagem logo se encarregaria de espairecer o ambiente, o rio Aquidauana se apresentou majestoso, um cardume de Piraputanga pulava rio acima, em busca de água mais quente para se procriar, o balé na cachoeira foi um espetáculo inesquecível, a natureza do pantanal fez o menino feliz e naquele momento o que importava era ficar em harmonia com o rio. Quanta e sua turma chegaram a Coronel Camisão no dia 23 de Dezembro de 1982, na hora prevista. Camisão é um povoado no pé da montanha, o morro do diabo, como era conhecido, sua população era formada por uma tribo guarani que usava camisa do flamengo e celular, logo se viu o aldeamento. O montanhista fez a distribuição da trupe, o acampamento se ergueu e, o burilar da turma foi de pouquinho se apagando até que o último lampião provocou um brek-out e um silêncio harmonioso do cantar de grilo e cigarra, tomou conta da noite. Nunca foi tão fácil pôr adolescente elétrico para dormir, o trabalho, o esforço físico se encarregou de dar o toque de recolher e a noite passou a dominar o sono. Na manhã seguinte, um toque de berrante despertou o acampamento, era madrugadinha, o sol ainda era tímido e se abria no fundilho do diabo, o velho morro, que no passado fez sombra para o mar e fora abrigo de besta fera, agora se mostrava um menino renovado, cheio de mistério. Seria ele o objeto do despertar da tropa, alcançar o seu pico era o programa do dia, recolher vestígio de antiga civilização, encontrar resto de dinossauro, e quem sabe na noite repleta de estrela ver um óvni e fotografá-lo para o deleite da gurizada. Quanta delirava que nem criança tinha o direito de sonhar com o lúdico e o inesperado, afinal era professora e uma professora que perde o prazer do lúdico, perde o amor pela profissão. A fila indiana ficou longa, o chefe cantava e a turma repetia a canção num coro cadenciado de exercito, o casal de arara azul se espantou com a ordenada cantiga. A menina de cabelo de fogo sorria para o menino pisador de brasa, e num determinado trecho ela pegou na mão dele e não mais largou. Na passagem de um obstáculo e outro a ajuda era mútua e carinhosa, tudo concorria para que fosse iniciada naquela viagem uma grande história de amor, tendo como cenário; uma montanha e um nascer de sol inspirador. Neste ponto do trajeto a moçada foi dividida, cada grupo com um mapa, uma bússola e equipamento de escalada. Atentamente ouviram a preleção do diretor e de Quanta. Era evidente a ansiedade, num misto de medo e coragem, a adrenalina dava sinal de alterar o animo, cada equipe tinha tempo para chegar a determinado ponto demarcado, a atividade valeria uma pontua-ção, e a equipe vencedora receberia um kit de comida, roupa de cama e água fresca. A jornada se iniciou e logo já não se via ninguém mais por perto. A turma tomou a mata, cada qual numa direção. Quanta, o diretor e uma equipe de apoio formada por gente do local, subiram pelo oeste, seguindo um filete d’água que ia dar exatamente no ponto de encontro, com antecedência suficiente para quando chegasse a turma o rango estaria pronto. Essa era a previsão do diretor, Quanta se limitava a concordar e a rezar discretamente. Naquela hora ter fé era importante. Sua responsabilidade era enorme, carregava o peso, tanto da bagagem pessoal, quanto da ansiedade, tinha expectativa de logo abraçar pupilo por pupilo, que se aventuravam mata adentro. O diretor percebia a preocupação de Quanta e apertava-lhe o queixo delicadamente com carinho na tentativa de dizer com o gesto, que tudo estava sobre controle. O tempo passou, caminhada na mata foi um sucesso. A turma se encontrou exatamente como fora planejado pelo montanhista que ainda despertava suspiro em Dona Quanta, e na conferencia de pessoal, o menino, a menina espevitada e toda a galera estavam ali são e salva com muita história para contar. Caminharam o dia inteiro, e a noitinha todo mundo estava em volta da fogueira para a realização do fogo de conselho. O jantar fora servido. Frango defumado assado na fogueira e suco de pêssego, um cardápio e tanto, para um dia cansativo e acima de tudo divertido. O desgaste da caminhada fez da menina de cabelo de fogo, uma moça de movimento leve e suave e do menino alguém inclinado a jantar sem banho e a dormir sem culpa. Dona Quanta amanheceu disposta a por um pouco de cérebro naquela programação, todo esforço físico foi para alcançarem o topo do morro do diabo, agora Quanta teve a idéia de pedir para a turma recolher planta e bicho morto para catalogar, e em determinado local designou para que uma equipe fizesse uma escavação, havia uma suspeita de no local ter algo interessante para ser descoberto. O dia foi ocupado com sabedoria e uma aula muito divertida, um punhado de coisa foi ensacado e catalogado. Uma concha marinha foi descoberta pela menina serelepe, que elétrica anunciou o achado com tanta festa que parecia ter encontrado um tesouro, tão longe do mar, mais uma prova de que o morro já fez parte do habitat marinho. Um caco de cerâmica indígena foi pincelado pelo menino e observado com tanta fixação que despertou a atenção do diretor do acampamento. Era vestígio de uma peça Marajoara. Como pode uma peça dessa aqui, se a civilização Marajoara habitou o território amazônico, será que esse território se estendia até ao sul do Matogrosso! Ninguém entendeu se a fala do diretor foi de afirmação, exclamação, ou um questionamento, o que se entendeu foi que tudo naquele pedaço de chão escondia muito mistério e encanta-mento. O olhar do menino se cruzava com o da menina de cabelo de fogo, e já se via uma afinidade, que culminou com um beijo, gesto meio que ignorado por Quanta, mas aplaudido pela turma que nada deixava passar. O dia foi repleto de emoção, o material era farto e tudo seria levado para a escola. Um amarrado de cipó, fixado por resina, provavelmente de peroba, e com vestígio de defumação e odor forte de erva, talvez uma espécie de cachimbo indígena, foi a melhor peça encontrada. E por causa dela a equipe da menina e do menino apaixonado, acumulou mais uma pontuação. O retorno á base, seria feito dentro da mesma temática, orientado pela bússola, e pré-marcado o tempo do percurso, que dessa vez, seria invertido, uma equipe deveria voltar no caminho vindo pela outra, assim poderia a equipe observar e mapear algum obstáculo ainda não vivenciado na vinda. Mochila refeita o pessoal partiu para a descida. Quanta e o diretor seguiram pelo mesmo caminho da subida, seguindo o riacho e o véu de noiva. Sendo essa cachoeira o cenário para a confirmação do amor dos dois e o inicio de um drama irrecuperável na vida de Quanta. A vida revelaria seu lado cruel, naquele encontro com a cachoeira véu de noiva estava o destino de Quanta, nunca, em lugar algum, poderia acontecer uma revelação fenomênica desse nível. Quando se está muito feliz, há sempre o medo e a insegurança que esse período gostoso acabe em tragédia. Quanta sempre foi uma rocha forte, mas por mais forte que seja a rocha á sempre um abalo significativo em sua estrutura quando o terremoto é repentino e cruel. O véu de noiva se entendia por vinte metros em queda livre, não se poderia passar por ela sem contemplar a sua rara beleza, ali parecia o templo de algum Deus, o vento do espírito respingava sobre o seu corpo, e cada gotícula vinha a seu encontro como um refresco, até que do fundo de uma caverna escura, a sombra de uma mão estendeu o dedo indicador, que de tão longo parecia um minúsculo galho esticado em cem milhões de vezes, a sombra daquele dedo esdrúxulo e descomunal se esticou do fundo da caverna negra e parou bem no peito de Quanta. Ela ficou perplexa, embora gelada pelo respingo da cachoeira, ficou com a temperatura do corpo elevada, teve medo, e no instante que o dedo parou em seu peito, conseguiu se equilibrar e recuperou o fôlego perdido com o susto. Não se sabe o que era aquilo, uma sombração, uma falsa impressão, apenas um galho de uma arvore, ou um fenômeno natural, quem sabe. O fato é que Quanta não entendeu, teve uma sensação diferente, real, de que alguém com uma mão misteriosa queria atingir o seu centro. Avisá-la de algo, talvez, ninguém viu isso acontecer, foi rápido e logo passou, e ela procurou esquecer o dedo elástico da sombra negra e continuou a olhar com destreza a cachoeira e a vegetação a seu redor. Não comentou nada com ninguém, nem mesmo com o montanhista, apenas se limitou a perguntar a ele, se acreditava em aparição de espírito, ou em algum tipo de aviso e comunicação da natureza com os homens. Ele era cético, não acreditava em nada que a ciência não poderia comprovar, não era ligado nessas coisas de religião, apenas admirava a pureza dos nativos em respeitar e reverenciar a natureza. Quanta guardou a misteriosa aparição da sombra para si, no seu intimo, que volta e meia incomodava o seu inconsciente. Mesmo assim o papo de Quanta o agradou, pois ela estava ainda mais doce e amável, carente, pedindo ombro ou colo. Ele fazia-se de ouvinte atento enquanto caminhava ao lado dela, e Quanta admirava o amigo, a sua disposição física, o seu dote físico aliado a sua inteligência fazia dele um homem ideal, se é que para certas mulheres existe no mundo um homem ideal, se bem que no mundo de certa mulher o homem ideal é aquele que a ama incondicionalmente, independente de suas qualidades ou defeitos. Quanta se aproximava dele fazendo-lhe um elogio a traz do outro, chegando a ponto de, diante da cachoeira, em uma enorme pedra de cristal, não se conterem, e ali mesmo, num beijo ardente, Quanta e Roberto se amaram loucamente. Afinal esse momento era esperado por eles a mais de trinta nos, cada um tomou o seu rumo após o tempo de escola, no entanto acabaram se reencontrando, perceberam que poderiam encontrar a felicidade juntos, e faltava o teste de química, de ciência quântica, onde se inclui o olfato onde fica registrado o cheiro do corpo, da respiração, um ver o outro para que mesmo distante possa se identificar quem é. A percepção da maciez da pele, o toque no cabelo, e principalmente um aprender a ler na entre linha o desejo um do outro, e finalmente é preciso amar o suficiente para que o espírito de cada um possa se reencontrar mesmo que o infinito do cosmo dê a sensação de separação eterna. O átomo que se desmembra do outro, mesmo separado acaba formando outra composição, jamais perde sua raiz, e da mesma forma que se desprende se une, inesperadamente, em algum tempo, por um objetivo comum se reencontra, e se une, progressivamente, formando um novo tom, dando seqüência a outra concepção. Com estas solenes palavras Quanta colocou na cabeça de seu amado uma coroa feita de folhas e galhos. E ele repetiu o gesto retirando a coroa de sua cabeça e acomodando-a em Quanta. Roberto Repetiu o mesmo ritual, apenas acrescentando no final: Eu amo você, sempre amei e a amarei eternamente. Diante do véu de noiva, em plena natureza se casaram, tendo como testemunha uma sombra que insistia em ver tudo bem de perto em silêncio, como um Quarks. O pé do morro do diabo estava cheio de gente preocupada com a professora Quanta e o diretor do acampamento, o atraso causou preocupação na turma a ponto de já tramarem o retorno de uma equipe para o resgate que era para ser liderada pela menina cabelo de fogo, que não tinha a menor vocação para espera. O menino acreditava que a equipe do diretor a qualquer momento apareceria, e foi exatamente isso o que aconteceu sob a algazarra e o alivio da rapaziada, que se abraçaram fraternalmente. O diretor reuniu a equipe, conferiu o pessoal e o material, e logo, com certa pressa, rumaram em direção a estação de Coronel Camisão para entrarem no trem e seguirem viagem de volta para casa. O acampamento só acabaria na escola, na aula de Quanta, que divulgaria a pontuação e a equipe vencedora. No dia seguinte, na escola, bem cedinho, o acampamento estava exposto no mural, e fervilhou o fala-fala sobre a expedição. O material coletado no morro do diabo seria também exposto posteriormente pela quinta série, a atividade rendeu muito texto, exposição, vídeo, tese, e didaticamente fora um sucesso. Era evidente a alegria em estudar naquela semana. Cálculo matemático foi proposto por Dona Quanta, quantificar tudo, pareceria redundância, e a coincidência com o nome da professora era motivo de zoeira. Quantificar o tempo, o peso da mochila, o gasto com comida, equipamento, passagem, volume da água do rio, a espécie de peixe pescada, a comida regional, o meio de transporte, a cultura do povo local, o aspecto geográfico da região, a confecção de mapa, a analise do material encontrado e sua catalogação e exposição. E assim fazer de um simples acampamento algo extremamente importante na vida escolar. Poder ir alem de um dado concreto seria o objetivo final daquela aula e isso foi conseguido por Dona Quanta e por toda a sua quinta série, que ficou marcada pela aproximação e, principalmente por um aprendizado real e empolgante. Foi tão importante o acampamento para o menino, dando a ele uma excepcional base, que hoje, consegue narrar o fato, com detalhe simbólico, entendendo que na vida tudo é símbolo. O menino esteve lá, mesmo de maneira quântica, esteve lá, na sala de aula, de uma professora á frente de seu tempo, num mundo possível e dinamicamente avançado. Era um dia de sábado, um tempo enorme a frente do dia daquele acampamento, a feira livre ainda encantava o menino e a menina, que agora adultos, fazia o seu passado refletir naquele momento especial do presente. O grito vivaz do feirante, a cor e a forma de tudo, o cheiro do pescado e o da flor se misturando, e o menino tentando identificar. O povo passando, pedinchando a mercadoria. A menina fotografando tudo e sorrindo. Parecia ou era uma tarefa de escola? Uma pesquisa escolar sugerida por Dona Quanta? Dona Quanta que se fundia com a escola. A escola de Dona Quanta estava dentro de outra escola, a do governo. A menina parou numa banca que tinha para vender uma tartaruguinha e não resistiu, comprou a pequenininha e a colocou dentro de uma caixinha e, foram para a casa de Dona Quanta, levar a ela aquele presente e visitá-la, após muitos anos. O dia estava quente, ensolarado, Edu segurava na mão de Nina que caminhava equilibrando e revezando a caixinha na mão que ficava livre. A casa de Dona Quanta era perto da feira, mas naquele dia parecia longe, não chegava nunca. O menino andava chutando o ar tinha a sensação de estar vagando num sonho e, levitando e andando, chutando o ar, percebendo que não saia do lugar. Isso acontecia com o menino, não com o Edu, que na verdade caminhava normalmente de mãos dadas com a namorada. Ele via uma pessoa grande, extremamente grande, viu um homem de bigode enorme, chapéu desproporcional a cabeça, como um objeto retorcido, isso acontecia numa espécie de surto paralelo a normalidade da caminhada. Só na cabeça e no inconsciente do menino havia esse caos inexplicável, a ponto de pedir para parar e reconquistar a consciência. Nina mesmo ausente da cidade por uma década identificou a rua da casa de Dona Quanta, e viu um movimento estranho na frente, um carro preto parado, de lá saiu um homem cabisbaixo. Edu e Nina ficaram sem saber ao certo o que acontecia. O menino largou a mão da menina entrou sala adentro sem pedir licença, viu no centro da sala, um caixão envernizado e brilhante. Ergueu a cabeça lentamente, identificou um crucifixo prateado. Foi então se aproximando cada vez mais, correndo o olhar vagarosamente, e ao identificar o rosto de Dona Quanta, não se conteve, apertou os dedos e contraiu violentamente a boca e chorou. Não acreditou no que estava vendo. O mundo para o menino desabou sobre ele. Perdeu totalmente o controle e gritava violentamente, gritava tão forte que seu pranto se ouvia lá fora da casa, se ouvia no fim do mundo, atraindo uma multidão para observar o que acontecia. A menina serelepe de cabelo cor de fogo agachou-se como uma rã, e se encolhia tanto, ficando tão miudinha que parecia que queria passar no buraco do ladrilho vermelho. Ela gritava e chorava, fazendo doer o coração, a ponto de uma senhorinha, recolher a menina e tentar acalmá-la. Era Dona Quanta mesmo, ali naquele caixão, e ninguém podia fazer mais nada a não ser rezar e rezar incansavelmente. Num instante a casa ficou pequena, a turma daquela quinta serie dos anos 80 chegou feito relâmpago, a turma toda veio, e ninguém esperava uma tragédia desta. A comoção era geral. Nina pegou a caixinha com a tartaruguinha e entregou-a a uma menininha que a olhava com carinho. Edu fora amparado pelo professor Roberto, que ao lado de Quanta viveu feliz após aquele casamento no véu de noiva. Havia muito choro. Dona Quanta não fora acometida por nenhuma doença, o tempo consumiu sua energia. Nenhuma lembrança ou medo perturbava o seu espírito, e não quis se despedir de nada e de ninguém. Assim foi perdendo a consciência até morrer serenamente. Dona Quanta tinha noventa de magistério, Cento e Três anos de idade. Começou ser professora ainda menina ensinando o abecedário para índio e negro da fazenda de seu pai. Dona Quanta construiu uma história de vida que emociona. Quem com ela tivera o prazer de estudar e conviver sempre lembrará dela como uma mestre, dela nasceu a frase: A arte é a mestra mãe do conhecimento humano e dela nasce toda ciência. Dela nasceu método Quarks. A sala de aula estava preparada para a aula espetáculo, aconteceria ali um julgamento, de um lado o júri popular formado pela comunidade, o Juiz, o promotor, e do outro lado o advogado da ré, e a ré: a escola pública, conservadora, repleta de vício e comodismo. Paulo Roberto de Paula.

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A porta da verdade estava aberta mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só conseguia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia os seus fogos. Era dividida em duas metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era perfeitamente bela. E era preciso optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. CDA

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",As mesmas mãos que nos tempos idos nos castigavam para ensinar, são as mesmas que hoje nos aplaudem, a mão é a mesma que agora acaricia e envolve no sorriso, que encanta. As chineladas foram aquelas que marcaram uma geração, essa mão foi aquela que beliscou e feriu a alma geniosa. A mão da educadora de hoje deve provocar o brilho nos olhos e não matar a poesia da arte de educar". do método QUARKS.

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Aprendemos através da experiência, e ninguém ensina nada ninguém. Isto é válido tanto para a criança que se movimenta chutando o ar, engatinhando e depois andando, como para o cientista com suas equações. Se o ambiente permitir, pode-se aprender qualquer coisa, se o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo o que tem para ensinar. "Talento" ou "falta de talento" tem muito a ver com isso. Devemos reconsiderar o que significa "talento" o que é chamado comportamento talentoso seja simplesmente uma maior capacidade individual para experienciar. O aumento da capacidade individual de experienciar que a infinita potencialidade de uma personalidade pode se evocada.Experienciar é penetrar no ambiente, é envolver-se total e organicamente com ele. Isto significa envolvimento em todos os níveis intelectual,físico e emocional. Dos três, o intuitivo, que é o mais vital para a situação de aprendizagem, é negligenciado.A intuição é sempre tida como sendo uma dotação ou uma visão mística possuída pelos privilegiados somente. No entanto,todos nós tivemos momentos em que a resposta certa estava no campo metafisico, surgiu do nada. (Spolin)

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DONA QUANTA (Primeiro capitulo sem a devida correção) Na primeira aula de arte a professora do menino pediu para que ele desenhasse uma árvore. O menino pintou uma árvore todinha de preto e nunca tinha feito um desenho tão bonito, estava totalmente concentrado na produção do desenho. Desenhava e escrevia algo que lhe fazia rir com tanto entusiasmo que chamou atenção da turma que gargalhava com gosto, achando algo muito engraçado, até que um silêncio sepulcral tomou conta da sala. O menino percebeu um caminhar de tamanco ritmar o assoalho oco de madeira da sala de aula, o toc,toc, do caminhante estacionou na sua carteira e,o menino permaneceu de cabeça baixa, até que levantou a cabeça lentamente e viu uma senhora bater na palma da mão uma régua de madeira, dessa grande de um metro. Era a professora que olhou para o desenho do menino, com ar de desaprovação, balançando a cabeça e o ombro, intimidando-o, como quem queria desprezar algo disparou: - Onde já se viu uma árvore toda pintada de preto, eu já não te ensinei menino burro que a árvore tem caule marrom, folha verde e fruta vermelha ou amarela. A professora falou firme e com veemência, como se já conhecesse o menino de algum tempo e já tivesse lhe ensinado alguma outra lição. Mas era o primeiro dia do menino naquela escola. O menino parecia confuso quanto ao tempo que aquilo estava acontecendo. O que parece é que o tempo se encarrega de começar a reproduzir na vida do menino certa ação do passado, mesmo que em situação diferente, com outra pessoa, no presente, para que ele tentasse resolver agora o que ficou pendente na sua história. A professora não sabia do texto que o menino tinha escrito atrás do desenho da árvore toda pintada de preto, e foi logo recriminando o desenho, pois desconhecia o contexto da obra de arte produzida pelo menino. O texto se iniciava assim: “Era uma vez uma tempestade com raio e trovão, e uma árvore de caule marrom, folha verde, fruta vermelha e amarela. A árvore estava sozinha na pastagem verde quando veio um raio e “zump” queimou a árvore e ela ficou todinha preta. Ela não sabia do texto, pois examinou o desenho com um olhar distante e insensível, não esperou o menino contar a história do seu desenho, foi logo julgando pelo que lhe parecia lógico, e sendo indelicada com o menino, marcou sua caminhada lhe fazendo um favor. A professora cumpria sua missão, sendo colocada na vida do menino não por acaso, apesar da sua ignorância a cerca do desenvolvimento intelectual do menino, desencadeou o nascimento de um grande pensador. O método de abordagem da professora também poderia ter provocado um bloqueio criativo que poderia ter custado ao menino toda sua vida, porem, o menino era calmo e não se abalou. A partir deste acontecimento o menino percebeu o domínio orgânico que tinha do seu pensamento criador. Com isso descobriu que tinha uma capacidade pessoal de aprender e desvendar o mundo. Tinha uma força criadora que inquietava seu animo. Foi assim que aconteceu um rápido amadurecimento na vida intelectual do menino. Havia em toda sua experiência escolar um desencontro, e o episódio da reprovação de seu desenho acendeu nele uma chama, que tinha como combustão o comportamento da professora, que insistia em reproduzir um jeito arcaico de dar aula, o próprio sistema de ensino provocava no menino uma reação contrária, contraditória, de desconfiança, desconfiava sempre do conhecimento passado com insegurança pela professora. Apesar disso, desconfiar exercia no menino um fascínio pelo aprender. O curioso que para o menino aquele ensinamento maçante ficava cada dia mais interessante, para o restante da turma era só uma professora brava, o giz, a quadro negro e o velho livro didático. Para ele que extraia da formula quadrada da professora um pensamento novo, repleto de oxigenação, a escola era o celeiro onde nascia um fabuloso gigante. Acorda gigante meu, você é sementinha, o celeiro esta cheio, acorda e levanta todo esse reino, venha e rasgue a terra e dê frutos. Um anjo soprou estas palavras no ouvido do menino, e o menino ignorou, pois não sabia ainda discernir nada que não pudesse ver. Para quem já voava no rabo de um cometa pouco importava decorar na ordem de tamanho o nome de um planeta. A sua Trajetória estava pronta para se iniciar agora efetivamente. O tanque estava cheio de água e o menino tinha que irrigar a horta, o calor estava escaldante, entrar no tanque e dar um mergulho poderia atrasar o trabalho, existe na gente sempre uma luta interna entre o que se tem vontade e o que se pode fazer, em um menino fica difícil encontrar equilíbrio nesta balança, entrar no tanque e dar um mergulho foi a sua escolha naquele momento. Diante do menino tinha um tanque de água fresca e algum instante de alegria e refresco. No entanto era a hora do trabalho e a horta tinha que ser irrigada antes que seu avô-pai chegasse da feira onde foi vender as leguminosas que cultivava. O velho era um homem severo, rígido, cheio de regras e que não admitia que uma ordem sua fosse revogada. O pai-avô estava no caminho do menino, ele tinha pouca sensibilidade e sua meta era passar para o menino certa dose de responsabilidade para que ele crescesse gente homem. A infância do menino poderia ser deixada para trás, hoje ele devia ser independente e responder por si próprio. Agora o menino tinha deveres, horários a cumprir, tinha que pagar o prato de arroz e feijão, com o suor do rosto para que aprendesse a dar valor. Assim dizia o avô-pai do menino. A vida do menino estava cheia de energia e criatividade. O menino enchia a boca de água e soltava para fora do tanque, fazia onda com a mão e espalhava a preciosa água, puxada do poço de mais de 30 metros. Há pouco o sarilho chorou muito com peso do balde e o tanque se encheu com água limpa, à custa do desgaste do músculo do velho, já cansado daquela lida. O avô-pai do menino saiu, e ele brincava e cantava dentro do tanque, contemplando sensivelmente a sua infância. Tudo parecia tranqüilo até que o menino olhou para cima e viu o olho vermelho de um homem desfigurado. Parecia que seu avô-pai tinha virado um monstro e ainda estava em processo de metamorfose. O avô-pai apareceu diante do menino de surpresa, como um cão de rapina. Quando o menino percebeu, o velho já estava furioso, e com sua mão de ferro pegou no seu cabelo e o afundou no tanque. Iniciará ali uma sessão de afogamento. O menino passou toda aquela angústia de estar sendo afogado, sem ar, completamente sem defesa, e o homem bravo submergia e afundava o menino, freneticamente, sempre mais, com muita violência, e nos momentos em que ele submergia ouvia o menino o fragmento da voz do monstro, cheio de ódio e xingamento expelido em fúria. Já sem força o menino foi içado do tanque e atirado no chão. Na areia quente foi violentamente chutado, o sangue escorria pelo seu nariz. O avô-pai do menino parecia bêbado e transtornado. Pisoteou-o com o seu sapato, de solado de borracha rígida e, o corpo magro e frágil do menino sentia a agressão. Sem defesa o menino nada pode fazer. O ato covarde do avô-pai do menino foi impensado e extremamente radical. O menino ficou com o rosto todo ensangüentado, sob o chão de terra quente deu um último suspiro e sucumbiu em desmaio. Amoleceu a flor arrancada com violência, morreu o passarinho preso na gaiola sem água e pão, desapareceu a formiga pisoteada com um sapato com mais de sessenta quilos. Endureceu como uma pedra de gelo. Derreteu-se como um floco de neve e se evaporou para longe como gás. O homem não teve dó, nem piedade, e fez desaparecer na escuridão um único foco de luz, de um dia extremamente feliz na vida menino. O menino morreu? Não sei. A única coisa que sei é que o menino foi transportado inconsciente para outro mundo. Um mundo parecido com o nosso, talvez para o menino, um mundo melhor que estava para ser construído com sua própria força e trilhado por sua exclusiva vontade. Lá, não sei onde, exatamente, não sei se por sonho, ou por alguma força quântica, magia, ou ficção, o menino reapareceu recuperado. Já brincava com a ponta do seu dedo esverdeada e que ele fazia de avião, a toda velocidade, o avião-mão, iluminava uma sala, parecida com uma sala de aula. Sua boca funcionava como um motor supersônico e vibrava no ar ecoando no teto um som contagiante e forte. Chovia e dava para ouvir a água da chuva cair no telhado e no ladrilho. O menino parecia estar sozinho, em uma escola. Toda essa sala é minha, só minha. Pensou o menino com entusiasmo. Havia pouco movimento na escola, o pátio estava vazio, ouvia-se apenas o ruído da vassoura deslizando no piso e recolhendo o lixo. O menino brincava com seus dedos esverdeados, era piloto de um avião supersônico e o som do motor do avião vinha de seus pulmões, com toda sua força, e tinha que superar o som da vassoura. Uma guerra se iniciará ali, ele no ar, no comando do avião, e alguém por terra com uma vassoura. Disparou o primeiro e único míssil, e ele foi certeiro, “Pimba” acertou em cheio. Fogo. Gritou ele como se tivesse vencido a batalha. O arrastar da vassoura cessou. O silêncio durou pouco, logo estava no centro da porta da sala de aula, uma mulher, alta, gorda com o lábio parecido com uma barra de chocolate marrom. Ela olhou admirada para o menino, dividiu a barra de chocolate, num riso feliz, balançando a cabeça, e ele recolheu o avião feito com os seus dedos e saiu dali como num passe de mágica, entre a vassoura dela e o batente da porta. A chuva não dava trégua o pingo era forte, o menino não temia nada, saiu enfrentando seu pensamento com tubarão, monstro marinho e submarino, até que chegou em terra firme. Finalmente a chuva parou e ouvia-se o estouro do milho de pipoca, preparada na manteiga, o cheirinho gostoso da pipoca tomou conta da casa inteira e na frente da tv degustou caroço por caroço até que adormeceu dominado pelo cansado. Veio então uma mão macia que acariciou o rosto do menino, e arrumou o seu cabelo. A mão limpou o menino com uma toalha molhada e depois o secou com outra toalha seca e limpa. Não dava para interromper um sono tão profundo para que se pudesse dar no menino um verdadeiro banho, daquele banho que quando a mãe pega o filho e descobre sujeira onde ninguém mais acharia só uma mãe carinhosa. O menino foi pego no colo, levado para a cama e coberto com um sedoso cobertor. A doce senhora de mão macia e lábio de chocolate beijou o menino, apagou a lâmpada do quarto, iluminou seu passado negro enchendo de luz materna a sua nova vida, verificou se tudo estava seguro e saiu. Esse foi o primeiro dia do menino nesse novo mundo. O tempo passou dinamicamente; pois o tempo no mundo em que o menino vive agora é contado de maneira diferente do nosso. O menino sonhava ou estava vivendo uma nova realidade? A sensação de algo renovador permeava no agora a vida do menino. De quem era aquela mão amiga que o acariciava? Sua nova atitude e o modo em que rapidamente se recuperou indicavam que não mais se lembrava do seu passado. E diante de si, no seu presente, se deparava com um muro branco, gigante, de muita altura e cumprimento, que recepcionou o menino num dia novo de conquista e mistério. O muro de tão alto, mantinha o menino em silêncio, pensativo, enquanto esperava sua vez de ter permissão para penetrá-lo e sair do outro lado. No gigante branco, nenhum arranhão. O muro existia e se fazia presente na vida do menino para que ele pudesse contemplar a magnitude de um ser material superior a ele. O muro apareceu á sua frente talvez como um símbolo, um ícone, para demonstrar uma nova etapa na sua vida intelectual, que vai ser daqui para frente como um enigma ou um código para ser decifrado. O menino olhava tudo e ia de pouquinho assimilando o novo ambiente. O muro era o muro da sua nova escola? A vida continuava o seu curso, e o menino era outro, vivia com uma senhora amável, que o admirava, dava suporte para que sua criatividade aflorasse cada vez mais. Agora o menino tinha um lar de verdade, amor, carinho e tudo que era necessário para que ele acabasse de crescer e cumprisse a sua missão. Renasceu o menino no ceio de uma pessoa generosa, inteligente, que além de mãe amável, era uma educadora idealista que sonhava implantar no seu país um ensino dinâmico e mais humano. Queria Dona Quanta iniciar um movimento cultural que iria revolucionar o ensino. A escola do sonho de Quanta estava germinada no coração dela e no âmago de seu filho. Quanta e o menino viviam um para o outro. O amor incondicional nascido por força do destino era arrebatador e, mãe e filho transpiravam felicidade. Não sei como o menino conseguia passar pela fogueira com a brasa acessa e não queimava o pé. Essa coragem lhe deu boa fama e reputação na pequena vila rural que morava. Em toda festa de fogueira ele era chamado e tinha boca livre. Todo mundo lhe admirava, ele nunca aconselhou ninguém a por o pé no fogo, quem teimada ia por conta própria e se queimava. O menino conseguia passar e nem chamuscava o pelo da canela. Não sei que mistério tinha em torno disso. O que sei é que despertava muita atenção do pessoal e com isso ele passou a ser rodeado por quem queria saber o truque. Não existia truque, era só uma coragem. Dizia ele. O menino não fez promessa para santa, nunca foi de rezar. Isso de pular fogueira e pisar sob a brasa era somente lenda. Falava Dona Quanta, que ria muito, quando comentava do pulador de fogueira que era a maior sensação da festa. A única coisa que interessava ao menino nessa fama de pisador de brasa, que foi levada para escola, era o elogio de certa menina de cabelo cor de fogo que lhe via como uma espécie de super-herói. Ela era magrinha, ágil, espevitada, falante, imperativa e nunca o menino conheceu ninguém mais inteligente que ela. Ele, no entanto tinha movimentos suaves o olhar brilhante e cativador, gostava de ler, tinha apurado censo de justiça, buscava resolver tudo com voz moderada e se portava na sala como um juiz. O menino sempre opinava quando algum conflito era estabelecido na sala de aula, o método de Dona Quanta propiciava o embate, e tudo era resolvido ali mesmo pela turma. Agora já estavam na quinta série. Numa manhã de sexta-feira Dona Quanta ao entrar na sala abriu uma folha de jornal de um lado para o outro, á frente da sala, e a turma nada viu de anormal, só sei que a menina se assustou quando Dona Quanta, despejou toda água que estava no copo, e o jornal simplesmente não molhou, e nem a água derramou. Isso foi um truque de mágica! Anunciou a menina com toda força de seu pulmão, e a sala toda aplaudiu com algazarra. A aula de Dona Quanta sempre foi assim, quando ela percebia que a turma estava cansada tinha sempre um truque novo na manga para mostrar. Ela gostava de ouvir música com a gente. Por ela não precisaria prova para avaliar a turma. Dona Quanta dizia que esse método de prova não provava que se aprendeu. Sempre ele ouvia Dona Quanta afirmar: Só de conversar individualmente com meu aluno eu sei se ele aprendeu o conteúdo, o meu sonho é que o ensino nesta escola fosse parlamentar. Essa frase caia no vazio para a maioria da sala, para o menino Dona Quanta queria lhe ensinar algo importante com isso, que ele não sabia exatamente o que seria. Sabe quando um professor explica algo na sala para a turma e parece que só esta explicando para você. O menino tinha essa impressão, com seu olhar confirmativo e o balançar da cabeça ele admitia a explicação dela, a fala da Dona Quanta sempre vinha ao seu encontro. De certa maneira com esse costume ela fazia dele o seu cúmplice e cobaia de um método, isso de um jeito indireto, Quanta lhe motivava na busca de solução para um problema em especial que ainda tinha para resolver no futuro. A Mochila estava com excesso de roupa, tudo levava a crer que a viagem que o menino e sua turma da quinta série iria fazer, seria longa e demorada. A menina magricela mal agüentou levantar do chão a mochila do menino, a turma estava eletrizada, o bagageiro da condução ficou super lotado, estava tudo pronto para a partida. O programa de Dona Quanta sempre foi concorrido, divertido e acima de tudo didático, a professora sabia como ninguém tirar proveito de uma atividade externa. Dona Quanta contratou por sua conta um montanhista renomado para dirigir o acampamento, ele fora escoteiro, conhecia bem a região, tinha muito carisma com a moçada, foi amigo de Dona Quanta na infância e se reencontrou com ela depois de 30 anos. Quanta se preservou solteirona, e sempre se lembrava dele com carinho. Logo todos estavam na estação de trem, era tanta bagagem que o chefe da estação olhou admirado. A viagem de trem seria demorada, com certeza seria divertidíssima, ali ninguém tinha pressa para chegar, a paisagem logo se encarregaria de espairecer o ambiente, o rio Aquidauana se apresentou majestoso, um cardume de Piraputanga pulava rio acima, em busca de água mais quente para se procriar, o balé na cachoeira foi um espetáculo inesquecível, a natureza do pantanal fez o menino feliz e naquele momento o que importava era ficar em harmonia com o rio. Quanta e sua turma chegaram a Coronel Camisão no dia 23 de Dezembro de 1982, na hora prevista. Camisão é um povoado no pé da montanha, o morro do diabo, como era conhecido, sua população era formada por uma tribo guarani que usava camisa do flamengo e celular, logo se viu o aldeamento. O montanhista fez a distribuição da trupe, o acampamento se ergueu e, o burilar da turma foi de pouquinho se apagando até que o último lampião provocou um brek-out e um silêncio harmonioso do cantar de grilo e cigarra, tomou conta da noite. Nunca foi tão fácil pôr adolescente elétrico para dormir, o trabalho, o esforço físico se encarregou de dar o toque de recolher e a noite passou a dominar o sono. Na manhã seguinte, um toque de berrante despertou o acampamento, era madrugadinha, o sol ainda era tímido e se abria no fundilho do diabo, o velho morro, que no passado fez sombra para o mar e fora abrigo de besta fera, agora se mostrava um menino renovado, cheio de mistério. Seria ele o objeto do despertar da tropa, alcançar o seu pico era o programa do dia, recolher vestígio de antiga civilização, encontrar resto de dinossauro, e quem sabe na noite repleta de estrela ver um óvni e fotografá-lo para o deleite da gurizada. Quanta delirava que nem criança tinha o direito de sonhar com o lúdico e o inesperado, afinal era professora e uma professora que perde o prazer do lúdico, perde o amor pela profissão. A fila indiana ficou longa, o chefe cantava e a turma repetia a canção num coro cadenciado de exercito, o casal de arara azul se espantou com a ordenada cantiga. A menina de cabelo de fogo sorria para o menino pisador de brasa, e num determinado trecho ela pegou na mão dele e não mais largou. Na passagem de um obstáculo e outro a ajuda era mútua e carinhosa, tudo concorria para que fosse iniciada naquela viagem uma grande história de amor, tendo como cenário; uma montanha e um nascer de sol inspirador. Neste ponto do trajeto a moçada foi dividida, cada grupo com um mapa, uma bússola e equipamento de escalada. Atentamente ouviram a preleção do diretor e de Quanta. Era evidente a ansiedade, num misto de medo e coragem, a adrenalina dava sinal de alterar o animo, cada equipe tinha tempo para chegar a determinado ponto demarcado, a atividade valeria uma pontua-ção, e a equipe vencedora receberia um kit de comida, roupa de cama e água fresca. A jornada se iniciou e logo já não se via ninguém mais por perto. A turma tomou a mata, cada qual numa direção. Quanta, o diretor e uma equipe de apoio formada por gente do local, subiram pelo oeste, seguindo um filete d’água que ia dar exatamente no ponto de encontro, com antecedência suficiente para quando chegasse a turma o rango estaria pronto. Essa era a previsão do diretor, Quanta se limitava a concordar e a rezar discretamente. Naquela hora ter fé era importante. Sua responsabilidade era enorme, carregava o peso, tanto da bagagem pessoal, quanto da ansiedade, tinha expectativa de logo abraçar pupilo por pupilo, que se aventuravam mata adentro. O diretor percebia a preocupação de Quanta e apertava-lhe o queixo delicadamente com carinho na tentativa de dizer com o gesto, que tudo estava sobre controle. O tempo passou, caminhada na mata foi um sucesso. A turma se encontrou exatamente como fora planejado pelo montanhista que ainda despertava suspiro em Dona Quanta, e na conferencia de pessoal, o menino, a menina espevitada e toda a galera estavam ali são e salva com muita história para contar. Caminharam o dia inteiro, e a noitinha todo mundo estava em volta da fogueira para a realização do fogo de conselho. O jantar fora servido. Frango defumado assado na fogueira e suco de pêssego, um cardápio e tanto, para um dia cansativo e acima de tudo divertido. O desgaste da caminhada fez da menina de cabelo de fogo, uma moça de movimento leve e suave e do menino alguém inclinado a jantar sem banho e a dormir sem culpa. Dona Quanta amanheceu disposta a por um pouco de cérebro naquela programação, todo esforço físico foi para alcançarem o topo do morro do diabo, agora Quanta teve a idéia de pedir para a turma recolher planta e bicho morto para catalogar, e em determinado local designou para que uma equipe fizesse uma escavação, havia uma suspeita de no local ter algo interessante para ser descoberto. O dia foi ocupado com sabedoria e uma aula muito divertida, um punhado de coisa foi ensacado e catalogado. Uma concha marinha foi descoberta pela menina serelepe, que elétrica anunciou o achado com tanta festa que parecia ter encontrado um tesouro, tão longe do mar, mais uma prova de que o morro já fez parte do habitat marinho. Um caco de cerâmica indígena foi pincelado pelo menino e observado com tanta fixação que despertou a atenção do diretor do acampamento. Era vestígio de uma peça Marajoara. Como pode uma peça dessa aqui, se a civilização Marajoara habitou o território amazônico, será que esse território se estendia até ao sul do Matogrosso! Ninguém entendeu se a fala do diretor foi de afirmação, exclamação, ou um questionamento, o que se entendeu foi que tudo naquele pedaço de chão escondia muito mistério e encanta-mento. O olhar do menino se cruzava com o da menina de cabelo de fogo, e já se via uma afinidade, que culminou com um beijo, gesto meio que ignorado por Quanta, mas aplaudido pela turma que nada deixava passar. O dia foi repleto de emoção, o material era farto e tudo seria levado para a escola. Um amarrado de cipó, fixado por resina, provavelmente de peroba, e com vestígio de defumação e odor forte de erva, talvez uma espécie de cachimbo indígena, foi a melhor peça encontrada. E por causa dela a equipe da menina e do menino apaixonado, acumulou mais uma pontuação. O retorno á base, seria feito dentro da mesma temática, orientado pela bússola, e pré-marcado o tempo do percurso, que dessa vez, seria invertido, uma equipe deveria voltar no caminho vindo pela outra, assim poderia a equipe observar e mapear algum obstáculo ainda não vivenciado na vinda. Mochila refeita o pessoal partiu para a descida. Quanta e o diretor seguiram pelo mesmo caminho da subida, seguindo o riacho e o véu de noiva. Sendo essa cachoeira o cenário para a confirmação do amor dos dois e o inicio de um drama irrecuperável na vida de Quanta. A vida revelaria seu lado cruel, naquele encontro com a cachoeira véu de noiva estava o destino de Quanta, nunca, em lugar algum, poderia acontecer uma revelação fenomênica desse nível. Quando se está muito feliz, há sempre o medo e a insegurança que esse período gostoso acabe em tragédia. Quanta sempre foi uma rocha forte, mas por mais forte que seja a rocha á sempre um abalo significativo em sua estrutura quando o terremoto é repentino e cruel. O véu de noiva se entendia por vinte metros em queda livre, não se poderia passar por ela sem contemplar a sua rara beleza, ali parecia o templo de algum Deus, o vento do espírito respingava sobre o seu corpo, e cada gotícula vinha a seu encontro como um refresco, até que do fundo de uma caverna escura, a sombra de uma mão estendeu o dedo indicador, que de tão longo parecia um minúsculo galho esticado em cem milhões de vezes, a sombra daquele dedo esdrúxulo e descomunal se esticou do fundo da caverna negra e parou bem no peito de Quanta. Ela ficou perplexa, embora gelada pelo respingo da cachoeira, ficou com a temperatura do corpo elevada, teve medo, e no instante que o dedo parou em seu peito, conseguiu se equilibrar e recuperou o fôlego perdido com o susto. Não se sabe o que era aquilo, uma sombração, uma falsa impressão, apenas um galho de uma arvore, ou um fenômeno natural, quem sabe. O fato é que Quanta não entendeu, teve uma sensação diferente, real, de que alguém com uma mão misteriosa queria atingir o seu centro. Avisá-la de algo, talvez, ninguém viu isso acontecer, foi rápido e logo passou, e ela procurou esquecer o dedo elástico da sombra negra e continuou a olhar com destreza a cachoeira e a vegetação a seu redor. Não comentou nada com ninguém, nem mesmo com o montanhista, apenas se limitou a perguntar a ele, se acreditava em aparição de espírito, ou em algum tipo de aviso e comunicação da natureza com os homens. Ele era cético, não acreditava em nada que a ciência não poderia comprovar, não era ligado nessas coisas de religião, apenas admirava a pureza dos nativos em respeitar e reverenciar a natureza. Quanta guardou a misteriosa aparição da sombra para si, no seu intimo, que volta e meia incomodava o seu inconsciente. Mesmo assim o papo de Quanta o agradou, pois ela estava ainda mais doce e amável, carente, pedindo ombro ou colo. Ele fazia-se de ouvinte atento enquanto caminhava ao lado dela, e Quanta admirava o amigo, a sua disposição física, o seu dote físico aliado a sua inteligência fazia dele um homem ideal, se é que para certas mulheres existe no mundo um homem ideal, se bem que no mundo de certa mulher o homem ideal é aquele que a ama incondicionalmente, independente de suas qualidades ou defeitos. Quanta se aproximava dele fazendo-lhe um elogio a traz do outro, chegando a ponto de, diante da cachoeira, em uma enorme pedra de cristal, não se conterem, e ali mesmo, num beijo ardente, Quanta e Roberto se amaram loucamente. Afinal esse momento era esperado por eles a mais de trinta nos, cada um tomou o seu rumo após o tempo de escola, no entanto acabaram se reencontrando, perceberam que poderiam encontrar a felicidade juntos, e faltava o teste de química, de ciência quântica, onde se inclui o olfato onde fica registrado o cheiro do corpo, da respiração, um ver o outro para que mesmo distante possa se identificar quem é. A percepção da maciez da pele, o toque no cabelo, e principalmente um aprender a ler na entre linha o desejo um do outro, e finalmente é preciso amar o suficiente para que o espírito de cada um possa se reencontrar mesmo que o infinito do cosmo dê a sensação de separação eterna. O átomo que se desmembra do outro, mesmo separado acaba formando outra composição, jamais perde sua raiz, e da mesma forma que se desprende se une, inesperadamente, em algum tempo, por um objetivo comum se reencontra, e se une, progressivamente, formando um novo tom, dando seqüência a outra concepção. Com estas solenes palavras Quanta colocou na cabeça de seu amado uma coroa feita de folhas e galhos. E ele repetiu o gesto retirando a coroa de sua cabeça e acomodando-a em Quanta. Roberto Repetiu o mesmo ritual, apenas acrescentando no final: Eu amo você, sempre amei e a amarei eternamente. Diante do véu de noiva, em plena natureza se casaram, tendo como testemunha uma sombra que insistia em ver tudo bem de perto em silêncio, como um Quarks. O pé do morro do diabo estava cheio de gente preocupada com a professora Quanta e o diretor do acampamento, o atraso causou preocupação na turma a ponto de já tramarem o retorno de uma equipe para o resgate que era para ser liderada pela menina cabelo de fogo, que não tinha a menor vocação para espera. O menino acreditava que a equipe do diretor a qualquer momento apareceria, e foi exatamente isso o que aconteceu sob a algazarra e o alivio da rapaziada, que se abraçaram fraternalmente. O diretor reuniu a equipe, conferiu o pessoal e o material, e logo, com certa pressa, rumaram em direção a estação de Coronel Camisão para entrarem no trem e seguirem viagem de volta para casa. O acampamento só acabaria na escola, na aula de Quanta, que divulgaria a pontuação e a equipe vencedora. No dia seguinte, na escola, bem cedinho, o acampamento estava exposto no mural, e fervilhou o fala-fala sobre a expedição. O material coletado no morro do diabo seria também exposto posteriormente pela quinta série, a atividade rendeu muito texto, exposição, vídeo, tese, e didaticamente fora um sucesso. Era evidente a alegria em estudar naquela semana. Cálculo matemático foi proposto por Dona Quanta, quantificar tudo, pareceria redundância, e a coincidência com o nome da professora era motivo de zoeira. Quantificar o tempo, o peso da mochila, o gasto com comida, equipamento, passagem, volume da água do rio, a espécie de peixe pescada, a comida regional, o meio de transporte, a cultura do povo local, o aspecto geográfico da região, a confecção de mapa, a analise do material encontrado e sua catalogação e exposição. E assim fazer de um simples acampamento algo extremamente importante na vida escolar. Poder ir alem de um dado concreto seria o objetivo final daquela aula e isso foi conseguido por Dona Quanta e por toda a sua quinta série, que ficou marcada pela aproximação e, principalmente por um aprendizado real e empolgante. Foi tão importante o acampamento para o menino, dando a ele uma excepcional base, que hoje, consegue narrar o fato, com detalhe simbólico, entendendo que na vida tudo é símbolo. O menino esteve lá, mesmo de maneira quântica, esteve lá, na sala de aula, de uma professora á frente de seu tempo, num mundo possível e dinamicamente avançado. Era um dia de sábado, um tempo enorme a frente do dia daquele acampamento, a feira livre ainda encantava o menino e a menina, que agora adultos, fazia o seu passado refletir naquele momento especial do presente. O grito vivaz do feirante, a cor e a forma de tudo, o cheiro do pescado e o da flor se misturando, e o menino tentando identificar. O povo passando, pedinchando a mercadoria. A menina fotografando tudo e sorrindo. Parecia ou era uma tarefa de escola? Uma pesquisa escolar sugerida por Dona Quanta? Dona Quanta que se fundia com a escola. A escola de Dona Quanta estava dentro de outra escola, a do governo. A menina parou numa banca que tinha para vender uma tartaruguinha e não resistiu, comprou a pequenininha e a colocou dentro de uma caixinha e, foram para a casa de Dona Quanta, levar a ela aquele presente e visitá-la, após muitos anos. O dia estava quente, ensolarado, Edu segurava na mão de Nina que caminhava equilibrando e revezando a caixinha na mão que ficava livre. A casa de Dona Quanta era perto da feira, mas naquele dia parecia longe, não chegava nunca. O menino andava chutando o ar tinha a sensação de estar vagando num sonho e, levitando e andando, chutando o ar, percebendo que não saia do lugar. Isso acontecia com o menino, não com o Edu, que na verdade caminhava normalmente de mãos dadas com a namorada. Ele via uma pessoa grande, extremamente grande, viu um homem de bigode enorme, chapéu desproporcional a cabeça, como um objeto retorcido, isso acontecia numa espécie de surto paralelo a normalidade da caminhada. Só na cabeça e no inconsciente do menino havia esse caos inexplicável, a ponto de pedir para parar e reconquistar a consciência. Nina mesmo ausente da cidade por uma década identificou a rua da casa de Dona Quanta, e viu um movimento estranho na frente, um carro preto parado, de lá saiu um homem cabisbaixo. Edu e Nina ficaram sem saber ao certo o que acontecia. O menino largou a mão da menina entrou sala adentro sem pedir licença, viu no centro da sala, um caixão envernizado e brilhante. Ergueu a cabeça lentamente, identificou um crucifixo prateado. Foi então se aproximando cada vez mais, correndo o olhar vagarosamente, e ao identificar o rosto de Dona Quanta, não se conteve, apertou os dedos e contraiu violentamente a boca e chorou. Não acreditou no que estava vendo. O mundo para o menino desabou sobre ele. Perdeu totalmente o controle e gritava violentamente, gritava tão forte que seu pranto se ouvia lá fora da casa, se ouvia no fim do mundo, atraindo uma multidão para observar o que acontecia. A menina serelepe de cabelo cor de fogo agachou-se como uma rã, e se encolhia tanto, ficando tão miudinha que parecia que queria passar no buraco do ladrilho vermelho. Ela gritava e chorava, fazendo doer o coração, a ponto de uma senhorinha, recolher a menina e tentar acalmá-la. Era Dona Quanta mesmo, ali naquele caixão, e ninguém podia fazer mais nada a não ser rezar e rezar incansavelmente. Num instante a casa ficou pequena, a turma daquela quinta serie dos anos 80 chegou feito relâmpago, a turma toda veio, e ninguém esperava uma tragédia desta. A comoção era geral. Nina pegou a caixinha com a tartaruguinha e entregou-a a uma menininha que a olhava com carinho. Edu fora amparado pelo professor Roberto, que ao lado de Quanta viveu feliz após aquele casamento no véu de noiva. Havia muito choro. Dona Quanta não fora acometida por nenhuma doença, o tempo consumiu sua energia. Nenhuma lembrança ou medo perturbava o seu espírito, e não quis se despedir de nada e de ninguém. Assim foi perdendo a consciência até morrer serenamente. Dona Quanta tinha noventa de magistério, Cento e Três anos de idade. Começou ser professora ainda menina ensinando o abecedário para índio e negro da fazenda de seu pai. Dona Quanta construiu uma história de vida que emociona. Quem com ela tivera o prazer de estudar e conviver sempre lembrará dela como uma mestre, dela nasceu a frase: A arte é a mestra mãe do conhecimento humano e dela nasce toda ciência. Dela nasceu método Quarks. A sala de aula estava preparada para a aula espetáculo, aconteceria ali um julgamento, de um lado o júri popular formado pela comunidade, o Juiz, o promotor, e do outro lado o advogado da ré, e a ré: a escola pública, conservadora, repleta de vício e comodismo. Paulo Roberto de Paula.

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